MEU PRIMEIRO CARRO

Meu primeiro carro era um monstro.

Um monstro, meu primeiro carro!

Potente? Não! Tartaruguesco!

Além disso, feio pra caramba!

Aos 21 anos, mal sabia dirigir uma carroça. Imagine um veículo, se é que aquela “coisa” poderia ser chamada desta forma.

Ford Taunus, ano de fabricação 1951, nós em 1969, portanto, dezoito anos de uso!

Sua origem inglesa não assegurava pontualidade. Eu não sabia, nunca, a que hora iria chegar e, pior, se chegaria.

Cansei de ficar na rua com ele. Minha condição financeira não permitia nem mesmo pequenos reparos na jabiraca. O medidor de gasolina: uma vareta de pau que eu enfiava no tanque para medir o nível de combustível. Um recipiente plástico com o precioso líquido que eu jogava no carburador servia de “bomba” para facilitar a ignição.

Os seus 32cavalos de força moviam os pistões para que ele atingisse a incrível velocidade de 70 quilômetros por hora, desde que fosse na descida.

Possuía 3 marchas para frente, além da ré. Primeira, segunda e terceira que poderiam ser chamadas de lenta, mais lenta e quase parando,

Minhas mãos, sempre sujas de graxa, confundiam as pessoas; pensavam: “É mecânico”.

Pensam que isto tudo me incomodava? Nem um pouco. Como eu era feliz com meu velho Taunus! Muito mais do que hoje com o meu possante 160 HP, Turbo.

Não se precisa de muito para ser feliz.

Cleomar Gaspar