CRIANÇA POBRE TAMBÉM TEM NATAL

Criança pobre também tem Natal, mas não é igual... É melhor... Muito melhor, acredite!

Filho de rico ganha presente sempre. Natal é apenas mais uma data, um dia como todos os outros. E os presentes são caros: celular, bicicleta, computador... Filho de pobre fica contente até com presente usado que o riquinho não quis mais.

Ao que vem fácil não se dá valor. Um brinquedo a mais na prateleira faz alguma diferença?

Na minha infância os “Natais” se transformavam em magia, felicidade e muita alegria. A família reunia-se e o júbilo tornava-se contagiante. Avós, tios primos, amigos e vizinhos juntavam-se para comemorar a “Noite Feliz”. No ar, o perfume da cerveja e da gengibirra caseiras tomava conta da casa e exalava o doce perfume da dedicação da “Nona” na sua confecção.

As notas musicais dançavam pelo espaço, esvoaçavam e até parece que viajavam para as estrelas. O céu enfeitava-se com o brilho raro de diamantes. A calma e a paz invadiam corações e tornavam a noite mágica, maravilhosa.

A expectativa da chegada do Velhinho do Natal batia em cada coração infantil. Eu, com meus seis anos de idade, sentia pena dele. Sempre arcado e com ar cansado carregando o saco de brinquedos que parecia tão pesado. Pobre Velhinho!

Papai Noel, aquele que andava com roupas de seda vermelha, eu nem sabia quem era. Esse, só comparecia nas casas das famílias mais abastadas. O nosso parecia ser bem mais legal. Trajava roupas comuns, chapéu, voz rouca e cajado. Parecia-se muito mais com as pessoas de nosso meio.

Ao som de “Noite Feliz” ansiávamos pela chegada do ilustre visitante.

E os presentes? Nunca vinha a sonhada bicicleta. Um carrinho, uma boneca, um trenzinho e olhe lá. Os pequenos até entendiam: o Velhinho não possuía muitas condições financeiras. Trajava quase que andrajos. Chinelo, calça furada, chapéu e paletó do lado avesso.

Em algumas ocasiões sobravam lágrimas... Anos de crise e o Velhinho sem condições de trazer o sonhado brinquedo.

Na mesa, quase sempre farta, não faltavam uvas passas. No arroz de forno, na maionese, no salpicão. E o frango? Coitado! Jazia sobre a mesa em uma travessa de vidro ou em uma forma de metal. Folhas de alface e fios de ovos, o adornavam. Em anos mais prósperos, pêssegos de matiz forte que lembrava gema de ovo.

Hoje, nossos Natais não têm a mesma magia. Na mesa faltam muitos personagens queridos. Já se foram para alegrar “natais” em outras paragens, mas deixaram as mais belas lembranças de dias maravilhosos que com eles convivemos.

Saudades dos Natais de minha infância. Queria ser outra vez menino e sentir a alegria dos velhos e alegres dias em que se sabia comemorar o dia do nascimento de Nosso Senhor.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 14/12/2022
Código do texto: T7671951
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