EVANGELHO CANINO

Logo percebi que a criatura estava incomodada, andando de um lado a outro sem rumo, se coçando, etc. Eram resquicios da vida desregrada que queria ter (andar livre por ai ) e que eu ser supremo conhecedor do bem e do mal tentava impor limites como um Deus que pede aos seus filhos para não comer as maçãs de uma macieira.

Fui complacente e me propus a dar-lhe um banho novamente. Faço quase semananalmente. Não desisto, embora saiba que ela cederá as tentações que vão além dos meus dominios ( o apto e a area cercada do meu prédio). Depos de banha-la nas águas que a livrariam das impurezas ela fugiu. Foi se esbaldar no gramado da área social do predio. Enquanto eu do alto tentava em vão chamar ela de volta para debaixo de minhas asas, ela só faltava dizer com seus ares sem vergonha: "Estou aqui porque assim sou. É essa minha natureza. Gosto de reconhecer meu cheiro de cachorra e não adianta me passar esse xampu fedorento"

Eu como "pai de Unna"* não desisto. Semana que vem faço tudo novamente. Desconfio que o Pai , senhor Altissimo, também seja assim. Mesmo sujos pelo pecado Ele ainda nos chama para sua comunhão por saber o que é melhor para nós. Mesmo que não possamos reconhecer isso ainda e sejamos infantis como a minha cachorra.

* minha pet se chama Unna.