O gato morreu

 

Aluu meus caros 23 fieis leitores e demais 36 que de quando em vez passam aqui por meu gatil literário a fim de ler crônicas felinas. Ajuungila?

 

O gato pulou do quadringentésimo quinquagésimo sétimo andar do edifício. Cruzes, que alto esse prédio, né? Ou seria do quadragésimo sétimo andar? Ou do apartamento 45 do sétimo andar? O gato poderia ter se confundido, oras. Afinal, ele é um felino, não um humano, não entende dessas coisas. O certo é que, de qualquer jeito, o gato acabou morrendo e esse é o fato que importa e que deve ser considerado. Uma bola sanguinolenta de pelos brasinos disforme no chão do passeio público, junto com dois olhos saltados das órbitas. Coisa feia de se ver.

 

"Morreu na contramão atrapalhando o tráfego". Não, era muito pequeno pra isso e, além de tudo, caiu na calçada. Se fosse na rua, os carros nem desviariam de seu corpo disforme, mas o nivelariam no asfalto com a borracha das rodas. Na calçada, as pessoas desviavam dos depojos despedaçados, fazendo caretas de nojo e evitando sujar a sola dos calçados com sangue e tripas.

 

O gato saltou para a morte. Isso foi o fato em si, pois na opinião do gato se tratou de outra coisa: ele pulou para a liberdade. Cansado da opressão humana, ele resolveu ser dono do seu nariz e senhor do seu destino, voando para a liberdade. Não chegou a passar um filme em sua cabeça, mas pensou em coisas maravilhosas durante o voo. Em lugares para onde iria, em ratos que caçaria, em cocos que enterraria, em mijadas que daria. Deu tempo para tudo isso, então imagino que, no mínimo, tenha sido do quadragésimo sétimo andar, mesmo.

 

Gato castrado de apartamento cansado de ração em potinho, colinho em sofá, caminha estofada e cocozinho na caixa de areia, sedento por aventuras e emoções mais condizentes com sua felinidade, saindo dessa zona de conforto humana que, para ele, era penitenciária. Esperou aparecer a oportunidade e saltou para a liberdade, num descuido de seu humano, que o amava, mas não aponto de pular atrás dele a fim de o salvar. O amor dos humanos é assim, possui limites definidos, da mesma forma que sua (pseudo) liberdade. O gato não, era do mundo e dono do mundo, não precisava de limite maior do que o das suas sete vidas. Aliás, se pulasse do sexto andar sobreviveria, com uma vida? Nunca saberemos.

 

O gato morreu buscando a sua liberdade e por isso se tornou um herói. Um bravo. Um valente. Um estúpido. Um idiota. Um louco suicida.Tudo depende do ponto de vista, se do gato ou dos humanos. O cara da faxina que juntou seus restos mortais, colocou num saco preto e depois no lixo, enquanto lavava a calçada na frente do prédio, não pensou em nada disso, emburrado que estava por o zelador ter lhe arrumado mais uma tarefa naquele dia, atrazando seu horário de ir pra casa mais cedo naquela sexta-feira, dia 7.

 

Seu humano chorou, é verdade. Guardou uma foto do gato num quadro sobre um dos móveis da sala, mas no Natal ganhou um bichano branco de olhos azuis da irmã e este substituiu o gato brasino peludo heróico ou louco que saltou para a liberdade fatal.

 

Qujanaq por terem dado uma passadinha por aqui hoje. Takuss"!

 

 

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.



MAITEXTOS em:
http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina
Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)

CARTABERTA aos meus caros 23 fieis leitores: 
https://www.recantodasletras.com.br/cartas/3403862

GLOSSÁRIKALAALLISUT:
Aluu - Olá.
Iterluarit kumoorn - bom dia.
Inuugujaq - Boa tarde.
Ajuungila - Como estão?
Qujanaq - Obrigado.
Takuss' - Até mais.

Antônio Rollim Fernando de Braga Bacamarte

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 17/12/2022
Reeditado em 18/12/2022
Código do texto: T7674235
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