A CULPA É DAS ESTRELAS?

A CULPA É DAS ESTRELAS?

“ora direis ouvir estrelas! Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto...” OLAVO BILAC.

Quando acionaram o sino anunciando o ponto de partida para se ingressar naquela estrada, aquele errático não tinha o senso do certo e do errado, e ainda por outro lado, muito menos a precisão dos seus passos. Poderia ser comparado ao verme que se transporta involuntariamente do reino vegetal, despertando os seus instintos, ingressando ao primeiro estágio no reino animal.

Àquela via, aquela viela, havia de ser longa, pois o incauto, ao pôr os pés no caminho, seguia olvido dali em diante das balizas que lhe foram propostas bem antes de tudo.

Seus instintos passariam a ser a sua bússola, e ai daquele que se opusesse aos trechos optados.

A caminhada seguia, os percalços, as barreiras, os desmoronamentos de encostas, eram os repetidos testes que lhe foram impostos, diante das suas escolhas.

Suas percepções eram tênues, mas a opção de prosseguir era a mais ajustada, perante os tempos e os temporais, pois do contrário, o perecimento era o que lhe restava.

Seu destino, ele não dava conta, talvez pudesse responder melhor, quem sabe pela vontade dos seus intestinos, por que pelo seu tino, e pelo seu gosto, a trajetória ainda teria que ocorrer há muitos agostos.

“mas ora direis, ouvis estrelas? Certo perdeste o senso!”

Assim diriam os transeuntes que o circundavam. Mas, porém, todavia, entretanto...Entre tantos no caminho, escolher o seguir em diante, era o que lhe restava, pois estar consigo mesmo, é nunca se sentir sozinho.

Nas veredas, aprende-se que um mapa é tão somente a representação de um território, e mesmo por ora, de todo contraditório, contudo, com tudo que se viu e ainda há de se ver, persistir, viria o melhor a ser.

O mergulho na noite escura, a pouca sinalização nas pistas, os próximos quilômetros poderiam representar àquele intrépido o perigo iminente. O cenário inóspito de terras alagadas dava o parecer de pouca visibilidade e daí as probabilidades de desacertos eram crivelmente previsíveis.

Mas, sempre há de haver um outro mas...o que levaria o nosso agente contumaz a seguir?

Teria ele agora a assistência das estrelas a guiá-lo em seus passos?

Todos os seres itinerantes, em contato com a dor, veem a necessidade de se movimentar, quase sempre impulsionados por um fundo positivo a ser tomado, e mesmo o mais recalcitrante reacionário, de modo impulsivo, é levado a se locomover.

O que importa o querer, se os ventos sopram pra outros nortes?

Se a sorte sorve os desejos contrários. Até para não atender a morte, eu me contrario;

De que vale os vários ensejos, já que o universo em seus desejos é um desvario?

Estabelecer o limite para vencer-se a si mesmo. Eis o desafio?

“Enquanto houver espaço, corpo, tempo algum, modo de dizer não eu canto”. BELCHIOR.

Pra buscar outras saídas, só resta se lançar ao oceano das palavras.

É como o vogar de um navio em um cinzento rio.

É reler a carta de bordo que já fora escrita outrora, para continuar a reescrever o aqui e o agora, e seguir o rumo, algumas vezes sem prumo, muito embora.

Escrever é como se lançar ao mar sem nadadeiras ou bote salva vidas.

É como ser uma biruta que se movimenta de acordo com o rumo dos ventos, e que as palavras vão te dirigindo por corredores, cujas temperaturas são medidas pelas batidas cardíacas que tocam a melodia que o escritor gostaria de ouvir pra compor a sua canção.

Por certas horas, o medo do caminho desconhecido, é o seu único instrumento para se agarrar. Cada sílaba, cada vocábulo, cada frase, formam os trechos esguios.

Ao se ouvir o sinal, cruza-se uma vicinal em busca de atalhos para se encontrar com a rua que alimenta o sonho da chegada. Exausto, porém fausto.

Todavia, a alegria não está necessariamente no fim da caminhada e sim no seu percurso.

Aquele que se rastejou durante tempos, insanamente contribuiu para desenvolver novas direções. O que muitas vezes, poderia se dizer desvio de rota, simplesmente eram as estrelas a brilhar conduzindo o errante, tal como a luz que atrai o vagalume que vaga devagar.

Ora, ora... Agora estás a me dizer que as estrelas influenciam as nossas vidas?

Sim, e que de ordinárias, são elas que nos dirigem.

PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)

27/12/22

Inspirado no poema de OLAVO BILAC e na Música “Divina comédia humana” de BELCHIOR