Juventude versus Maturidade

A maturidade liberta, sem dúvida. O passar dos anos vem acompanhado de uma serenidade de ter feito o melhor possível para si e para os outros além de haver seguido a sua intuição, que não costuma se enganar, mesmo sujeito a julgamentos externos em contrário. Parafraseando o sacerdote italiano Dom Bosco, “eu não disse que seria fácil. Disse que valeria a pena”. Considero uma grande verdade. Envelhecer nos faz descobrir camadas da vida antes ocultas por teimosia e ilusão. É lógico que há também tolos que envelhecem cometendo os mesmos erros, porém a tônica é o aprimoramento a cada ano que passa, a cada experiência bem ou mal sucedida. Não estou negando a força física e o frescor da juventude, pois é nessa fase que o cérebro está a mil por hora sendo capaz de realizar projetos em sua plenitude, porém no momento das decisões cruciais a inexperiência pode lançar dúvidas que deixem a nau do destino à deriva e nessas ocasiões faz muita falta acatar a opinião de quem teve êxito na jornada, os mais velhos, seja um parente ou mentor. Nascer sabendo não existe, fato.

Todos já foram jovens e fizeram ouvidos moucos para seus pais ou outros “hierarquicamente acima” deles, ou então não viveram a adolescência clássica. Mesmo diante de exemplos vívidos e comprovados o jovem sempre considera que seus planos (muitas vezes capengas) estão corretíssimos e os ventos certamente soprarão a seu favor. No entanto, contrariando o adágio popular, nem todos os caminhos levam a Roma, na verdade, com atitudes errôneas não vamos a lugar nenhum. A boa notícia é que do chão não se passa e depois da queda todos podem recomeçar infinitamente. Acontece que nesse infinito perde-se tempo. É preciso ser previdente e raciocinar antes de agir para não acontecer igual à fábula de João e Maria, que se perderam na floresta porque marcaram o caminho com miolo de pão rápidamente devorado pelos passarinhos. Há sim, jovens ajuizados, mas podem notar que quanto mais dificuldade e lutas eles precisam enfrentar na vida, maior o empenho e resultado, donde se conclui que deitar em berço esplêndido não dá camisa a ninguém. O sucesso é inversamente proporcional à quantidade de tempo passado dentro da área de conforto.

Há que se considerar até mesmo a área geográfica onde a pessoa nasceu. Na Europa cansada de tantas guerras o jovem acomodado não vinga, tem que sair cedo do ninho materno para voar e se bastar, mas em lugares como os EUA e Brasil essa “carreira solo” é postergada quase “per omnia saecula saeculorum”, que atrasa o futuro do sujeito face à facilidade de ter suas necessidades básicas atendidas, é portanto, em parte, um fenômeno cultural, salvo exceções. Porém, como a cobra que não anda não engole sapo, essa evolução acabará acontecendo a menos que o jovem seja de família tão abastada a ponto de ser facilmente sustentado até tornar-se herdeiro desse patrimônio espetacular como uma cornucópia infinita (situação tão rara na atualidade como ver um unicórnio pastando no parque).

Por outro lado, a cada conquista suada e a cada obstáculo superado é como o espinafre do Popeye, é um Everest escalado, fazendo a pessoa ser capaz de andar com as próprias pernas e compor a trilha sonora da sua vida mesmo podendo contar com o apoio de sua família e amigos. E naquelas “roubadas” ele não cairá outra vez e sim em outras diferentes e sucessivas até ir deixando de ser tão aprendiz e se tornando mestre de quem o suceder. Aprendizes sempre seremos todos em um ou outro setor até o cerrar dos olhos, mas dotados de segurança e paz na caminhada porque sem isso nem valeria a pena estarmos aqui no mundo, essa eterna escola.