Papo de busão: Papel Higiênico

Não sei se é só comigo ou se todo mundo tem histórias de transporte público pra contar. Talvez o fato de eu não me sentir confortável naquele ambiente apertado e cheio de gente sirva como predisposição para atrair coisas/pessoas estranhas para perto - Afinal, dizem os mais velhos que a gente atrai o que teme e o que não gosta… Enfim, hoje passei no supermercado para comprar papel higiênico, e, como estava sem a sacola ecológica, optei por colocar aquele trambolho de 20 rolos embaixo do braço e ir pro ponto de ônibus. O bendito circular chegou, relativamente vazio mas não o suficiente pra eu ir sentada na janelinha. Sentei no último lugar vazio. Do meu lado, uma mulher beirando seus quarenta e poucos anos. Do nada ela me cutuca: “Moça, podia ter colocado numa sacolinha né? É feiio carregar isso por aí”. Você também é feia e nem por isso tô pedindo pra cobrir o rosto com um saco…. Eu, pacientemente, comentei: “Pois é, esqueci a sacola ecológica. E o pacote nem caberia nas do supermercado”. Assunto terminado? Não. A criatura retruca: “Mesmo assim, podia ter colocado uma em cada ponta, só pra cobrir o pacote. É muito feio andar com papel higiênico exposto”. Ela disse desembrulhando uma bala e JOGANDO O PAPEL PELA JANELA. Eu juro que tento ser educada e sociável, mas tem horas que não dá. Olhei pra ela, olhei pra janela e… “ Feio? Deixa eu te falar, todo mundo tem bumbum pra limpar em casa, todo mundo usa papel higiênico. Não tem nada feio aqui não. E ele não está exposto, ele já vem no plástico e por isso eu não preciso poluir mais o mundo com sacolinhas de supermercado. Agora feio mesmo é você jogar papel de bala pela janela e ainda querer dar lição de moral”. Ela resmungou algo sobre “essa juventude impaciente dos dias de hoje, que não aceita opiniões e blábláblá”, virou o rosto pra janela e me deixou em paz… Fico pensando: Não sei quantos anos ela pensa que eu tenho pra se referir a mim como “juventude”, mas espero mesmo que os jovens de hoje sejam críticos e não aceitem sugestões babacas dadas com base em preconceitos ou convenções sociais sem fundamento. E, se alguém futuramente me falar que é feio carregar papel higiênico sem sacolinha, vou responder a primeira frase que pensei e não disse hoje por educação: Você também é feia/feio/feie e nem por isso tô reclamando da tua cara exposta. Afinal, eu sou educada, mas não sou obrigada a aguentar gente sem noção.