A IDADE CHEGOU

Estiquei os braços e inclinei-me para a frente. Eles voltaram, mas o tronco, não. Ficou lá, engessado, travado, parado. E eu, com um misto de angústia e dor, não me movia nem para a frente, tampouco para trás. Da casa dos 30, viajei direto à dos 80. Foi uma espécie descadeirada de Marty McFly, de “De volta para o futuro”, experienciando a velhice e posteriormente retornando ao presente.

Apoiei-me na parede e tentei impulsionar meu corpo para trás, pois como um evoluído exemplar do Homo sapiens sapiens, preciso manter-me bípede. Mas uma dor paralisante e que se espalhou por toda a lombar impediu-me de seguir qualquer tentativa. E permaneci lá, daquele jeito nunca antes imaginado. Lembrei-me de um primo, que remedava nossa avó “Ai minhas coluna…”, onde ríamos do exagero, uma vez que ela sempre foi cuidadosa com a sua saúde.

Apoiado em minha mãe, que por sorte estava perto, voltei à posição “em pé” e fui caminhando de lado, como um crustáceo, até o quarto e deitei-me. Lá me larguei e fiquei alguns dias, à base de remédios, aguardando a dor refrear. Algumas sessões de fisioterapia e um bom descanso permitiram-me retornar à labuta, não sem continuar sendo alertado pela musculatura de que algo de nada bom ocorria comigo.

Tive uma passagem expressa, sem escalas, para a terceira idade. É verdade também que muita gente, independentemente da faixa etária, possui limitações ainda mais severas pelas mais diversas razões -nunca agradáveis- e nem por isso sentem-se velhos. Há que se cuidar -e acurar- a maneira como vemos as coisas para não sermos capacitistas.

Contudo, dentro da minha (con)vivência, a realidade mais presente é a de pessoas velhinhas com as suas naturais limitações impostas pelo corpo já desgastado. Convivi com meus avós paternos no final de suas vidas e suas restrições motoras. De repente eu estava do mesmo jeito e foi inevitável fazer tal relação. Havia, sim, a diferença de que tenho a perspectiva de cuidar melhor do meu corpo e deixar apenas para a oitava ou nona década de vida essas limitações.

Mas fazer isso é difícil, pois envolve a mudança de estilo de vida, o que é uma das coisas mais difíceis de se fazer. Certamente agora não estou colaborando para essa melhoria. Estou deitado aqui, alongando as costas, e escrevendo essa crônica.

Deveria estar realizando, efetivamente, outros gerúndios: caminhando, alongando e exercitando. Porque o que, definitivamente eu não desejo agora, é ir de volta para o futuro.