(NOSSO) ALMOÇO ROMÂNTICO

Foi a primeira vez. Nossa primeira vez (na cozinha), ele se ambientando, perguntando “onde tem isso, onde tem aquilo”. Em pouco tempo, descascava a cenoura, lavava folhas e mais folhas, todo prendado.

“Eu faço o arroz!”, disse. No que concordei, claro. Ali, ele podia tudo, o comando era seu, assim como a cozinha, a casa e eu, inteirinha. Dividimos experiências, descascando camarão, falamos de assuntos diversos. Essa parte de descascar camarão é a mais chatinha, mesmo assim fiz com gosto. Poderia passar o dia todo fazendo isso, desde que fosse em sua companhia.

Depois, me deu dicas de como eliminar as formiguinhas que insistem em permanecer na cozinha, em cima da mesa, do fogão... onde já entenderam, segundo me disse, que é a fonte de alimentos de que precisam. As formigas estão presentes na minha vida como eu queria que ele estivesse. Desse jeitinho, insistente, diariamente ali, ao meu alcance. Não que ele não me incomode, mas é diferente.

Falei pra abaixar o fogo do arroz e ele me disse, num tom meio esnobe, “ainda não está na hora, eu sei fazer arroz!”. E deixei rolar. Pouco me importava o resultado do arroz, não era esse o “prato” que eu queria comer. Tampouco o filé de frango, assado na airfryer.

Ele também me ensinou, enquanto cortava cebola, a como fazer desaparecer a mancha impregnada na tábua de frios, branca. Instantes depois, muito habilidoso, montou a salada: folhas verdes, cenoura ralada, tomates, cogumelos, brócolis, rodelas de cebola. Encantador! Indaguei de novo pelo arroz, perguntando se podia apagar o fogo, e ele finalmente concordou.

E chegou a hora do almoço. Nosso almoço! O primeiro de muitos, pensei (e assim espero). Apreciamos os pratos que preparamos, juntos, o que os tornou tão especiais quanto quaisquer outros requintados. O requinte é da alma, graças a esse encontro feliz.

Perguntou-me se podia lavar os pratos, eu disse que não, lógico, ele era visita. E fomos para o sofá. Relaxamos, pouco tempo, mas o suficiente pra eu ficar toda felizinha.

Após deixá-lo no portão, fui lavar a louça. Hora de guardar as sobras na geladeira, a começar pelo arroz. Queimou, acredita? Eu queria fazer uma foto e enviar pra ele, com a legenda “eu sei fazer arroz”, mas dispensei, grata por toda a festa que esse almoço rendeu aqui dentro.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 13/01/2023
Código do texto: T7693810
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.