Marinheira de primeira viagem: parto da Paloma - NO CAMPO

Certa vez, tive uma égua chamada Paloma. Prenha, prestes a dar à luz a um potrinho, Paloma deita-se no chão de terra. Nós esperamos.

Saímos, voltamos. Nada acontecera.

Preocupados, perguntamos ao caseiro se seria possível ajudá-la. Não. Se nos intrometêssemos, ela recusaria o filhote.

Mais tempo se passa, e nada do potro nascer.

Afinal, coloca ele a cabecinha para fora, encoberta pela placenta, e permanece nessa posição.

Há um estalo, uma voz que vem do passado, quando minha filha estava para nascer:

- “Mais força, agora, serão ela morre sufocada!”

Percebo que a marinheira de primeira viagem deitara-se em um terreno em declive, com as pernas para a parte mais alta. A topografia não a ajudaria a expelir o filhote. Até pelo contrário: teria ela que fazer um esforço além do natural, para que ele nascesse.

Peço a minha filha que segure a cabeça da Paloma. Faça carinho e converse com ela.

Nega-se, com medo de que a mãe o recuse.

- “Faz o que estou mandando!”

Com as mãos, puxo o potrinho, que escorrega, com facilidade.

Rasgo a placenta para que o potro respire. Começo a puxar, enrolando como uma corda, aquela pele longa e molhada. Enrolo, enrolo, e não acaba mais. Pronto: estou tirando já as tripas dela. Meu Deus, o que fiz!

De toda forma, já estava feito. Saímos, para deixar mãe e filho à vontade.

Em uma hora estava ele em pé. Meio trôpego, mas em pé.

O que enrolei no braço foi só a placenta mesmo.

O potrinho? Foi cuidado pela mãe, naturalmente.

Essas marinheiras de primeira viagem!

Maria da Glória Perez Delgado Sanches

Membro Correspondente da ACLAC – Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo, RJ.

Conheça mais. Faça uma visita blogs disponíveis no perfil: artigos e anotações sobre questões de Direito, português, poemas e crônicas ("causos"): http://www.blogger.com/profile/14087164358419572567

Pergunte, comente, questione, critique.

Terei muito prazer em recebê-lo.