Bonequinha de papel machê

Estavam as duas sentadas no sofá. Um prato de pipocas doce, a tv ligada. A mãe dormindo no quarto.

Neste dia estavam calmas, vendo um programa para crianças, muito legal.A mãe achava, ensinava a fazer pequenos trabalhinhos manuais, com materiais de fácil acesso para as pequenas.

Os olhos delas mostravam muito interesse, nem se deslocavam da tela, enquanto as mãos pegavam grandes punhados de pipocas e conduziam para dentro das bocas gulosas.

O problema era que o programa terminava muito rápido, meia hora só. E depois disto elas tinham que inventar o que fazer. Não podiam fazer muito barulho, para não incomodar o descanso da mãe.

Neste dia foi muito legal!! Ensinaram na tv a fazer bonequinhas de papel machê. Bem fácil bastava pegar o papel higiênico, cola e água. Tudo simples é claro.

Mas simples demais para duas irmãs arteiras que gostavam de emoção e muita atividade. Com tempo de sobra para fazerem diabruras bem longe dos olhares atentos da mãe.

A maior subiu na cadeira, na dispensa onde os pais guardavam as compras de cada mês. Moravam no interior, então compravam em grande quantidade, tudo para que durasse bastante tempo.

Depois de algumas tentativas, pois, o papel higiênico estava muito no alto e não poderiam derrubar os enlatados senão a mãe acordaria, ela conseguiu tirar todo o papel que havia no armário.

No tanque foi uma festa, era grande com duas cubas, encheram de água.

A cola foi fácil. Haviam aprendido outro dia: coloca-se farinha e água quente, e pronto consegue-se assim um grude perfeito, cola tudo.

Já que tinham que misturar a cola no papel, mais a água e a tinta têmpera para dar a consistência e a cor esperada, porque não jogar tudo dentro do tanque?

E assim fizeram. Papel higiênico, muitos rolos... todos os que haviam na casa!

Farinha de trigo, e como era muito papel, o normal seria um pacotão daqueles , em que vinha muita farinha, nos sabemos qual. O de cinco quilos.

Muita água quente agora. Isto era o mais perigoso, tinha que acender o fogo, a mãe tinha horror que chegassem perto do fogão, mas era bobagem, já haviam visto mil vezes ela esquentar a água do chimarrão. Colocaram um panelão para esquentar.

Enquanto a água esquentava, elas iam mexendo com os pés, a mistura que havia no tanque.

Era bem mais legal, tinham visto isto uma vez na festa da uva. A mãe até entrara na tina rindo e dançando enquanto esmagava as uvas! Fizeram de conta que eram a mãe, e sapatearam bastante na farinha, papel e tinta. Como a tinta não amoleceu o papel, pois era pouca colocaram um pouco de água fria.

Depois de tudo muito bem pisoteado, concluíram que a água já estava quente. Foram buscar, deixando uma trilha de pegadas coloridas pela calçada, escada e assoalho encerado da cozinha.

O panelao era pesado, mas as duas uma de cada lado, deram um jeito de levar, derramando sobre as pegadas pingos de água morna. Não tiveram coragem de ferver a água. Ainda bem!!

Colocaram a água sobre a mistura.

Não deu certo... não deu, ficou mole demais. Não tinha mais papel higiênico já tinham colocado tudo. Vamos abrir o tanque, a água escorre e fica mais seco o papel! O tanque começou a fazer um barulho estranho parecia engasgado. Já sei está entupido. Vamos enfiar um pauzinho, é só cavocar que desentope. Não deu... O pauzinho quebrou e ficou lá dentro do buraco. Vamos tirar espremer e colocar num balde. Isto!!! Deu certo, pelo menos não ficou tão encharcado e até podiam dar alguma forma.

- O que é isto ???!!!!!!!!!!!

Assustadas. Com papel colorido e grudento até os joelhos, cara e cabelos de uma cor meio marrom, meio vermelha, olharam para onde vinha o som, daquela voz.

- Que bagunça é esta? – E a voz cada vez mais perto.

É por isso que eu acho que não consigo tirar uma sonequinha à tarde quando meu filho está em casa.

Lembro desta vez, o estrago que foi. Ficamos sem papel higiênico,tivemos que esperar meu pai chegar, pois a pé não dava para ir no supermercado. O tanque ficou tão entupido que meu pai teve que arrancar para mexer nos canos. A farinha grudenta se enroscou em nossos cabelos de uma forma que só a tesoura conseguiu dar fim. O bum bum ficou quente com as chineladas e por umas duas semanas fomos obrigadas a deitar depois do meio dia, com minha mãe no meio.