Sorriso de canto

E de repente o cara que andava por aí não ligando para nada, rodando e bebendo pelas ruas, se viu encantado e perdido. Andava pelas ruas pensando nela, deslumbrado com seu sorriso, pensava em segurar sua mão como se agarrado à beira de um abismo, contemplava o sorriso como um fiel à imagem de Deus. Já sonhava com o toque macio dos lábios quando sentiu pela primeira vez o afago da mão dela, um pequeno carinho que manteve o perfume dela perpetuado na pele do cara por horas. Ainda era cedo e o desejo de estar com ela aumentava a cada dia, cada hora, e as horas demoravam a passar longe dela e corriam ao seu lado. O tempo ainda era inimigo e o cara se perguntava o que estava acontecendo a ele, logo um caçador convicto resolver abandonar as armas assim.

Foi um sorriso, um sorriso de canto lindo que mudou aquele cara. E começava a se ver perdido naquele sorriso, queria aquele sorriso para ele. Tudo parecia acontecer naturalmente, ela demonstrava interesse, ele seguia sendo o cara apressado, acompanhava o ritmo do seu coração quando ela estava por perto. A bela sorria e alterava a chatice dos dias do cara, ele a via como uma pedra preciosa, via seus olhos brilharem mais que um diamante vermelho. O cara estava em uma encruzilhada, iria mesmo gostar de alguém assim intensamente sem conhecer, iria mesmo arriscar uma desilusão pelo desejo do primeiro beijo? Lógico que o cara iria, ele sabia que aquele sorriso era o caminho que devia seguir, ele sabia que aquele sorriso significava mais do que alguns beijos úmidos e ensaiados.

Uma pequena falha e o cara quase colocou tudo a perder, inconscientemente a ignorou, sequer olhou para ela por causa de um compromisso. Como não poderia ser diferente, a bela entristeceu, mandou recado desmanchando qualquer tipo de compromisso. O cara não acreditava no que lia, havia aprendido a deixar as mulheres sofrerem um pouco, mas acabou não resistindo e foi ao encontro de sua pequena. A encontrou com o semblante fechado, claramente magoada pelo gesto de indiferença. O cara se explicou e encarou o olhar dela mais uma vez enquanto pensava: "nossa, estou mesmo gostando dela"! Não era compaixão o que o cara sentia, era encanto, puramente encantamento e deslumbre. Ela mostrava estar correspondendo aos seus sentimentos e aquilo pareceu tão bom, tão intenso, que sem ligar para o mundo à volta o cara a beijou. Assustada ela correspondeu ao beijo e respondeu "agora eu tenho certeza do que sinto". Aquelas palavras levaram o cara aos céus, afinal havia encontrado um ser celestial capaz de devolver a crença no amor.

Uma pena que a vida machuque, mas ela coloca os apaixonados juntos nos bons e maus momentos. No dia que o cara desceu ao inferno, ela, com seu olhar de anjo, ficou ao seu lado, o acariciou, não permitiu que ele chorasse, segurou suas lágrimas com beijos e carinho, e o amor nascia aos poucos. O jardim da paixão agora vai sendo cultivado com abraços, beijos e amassos, ternura em cada olhar, em cada gesto. E pensar que o cara acabou se apaixonando por um sorriso, um sorriso de canto.