Eu queria voltar ao passado

Eu queria tanto voltar ao passado. Pisar nas poças de água da chuva das ruas de minha infância e percorrer o caminho de minha escola, tão nítido em minha memória. Sentir o cheiro da madeira do lápis sofrendo na lâmina cruel do apontador. Ou o aroma da folha da Cartilha Sodré, onde aprendi que Ivo viu a Uva.

Ah, como eu queria poder correr novamente as verdes pradarias dos subúrbios daquela cidade provinciana onde nasci. Tomar banho nas cristalinas correntezas dos riachos e sentir meus pés amaciados pela relva que enfeitava a paisagem colorida por flores silvestres.

Se eu pudesse mais uma vez, só mais uma, caminhar nas densas neblinas das manhãs frias de inverno e respirar o ar puro da saudade.

Se eu ainda pudesse escalar os abacateiros e as mangueiras e lá do alto fazer ecoar o grito do desejo de poder voar como os passarinhos.

Eu ainda queria acreditar nas fantasias infantis e também, por que não, nos causos de assombração que causavam arrepios de medo e despertavam temores. Ouvir as histórias que meu avô contava repetidamente, mas com tanto carinho. Sentir o calor das mãos de minha mãe nas noites em que a dor me visitava.

Como é bom lembrar de meu pai chegando em casa e na mesa de jantar contar para a família como tinha sido o seu dia de trabalho.

Vou parar por aqui. Caiu um cisquinho no meu olho. Logo eu volto.