Pertencimento

Os humanos precisam sentir pertencimento a um grupo, seja ele familiar, de amigos, do trabalho, da academia ou seja lá o que mais for. Os religiosos dirão que basta ao homem sentir que pertence a Deus, o Criador. Sim, existe conforto nisso para quem crê, porém diuturnamente somos confrontados com grupos sociais aos quais escolhemos pertencer e essa rotina nos ajuda a ser quem somos, nos dá reforço e ratificação. Em última análise é o nosso chão, saber que além dos amigos de copo e farra há também pessoas que chova ou faça sol estarão presentes para compartilhar o bom e o ruim. Essa é a nossa tribo que pode ser “de fábrica” ou escolhida, ou seja, pessoas que adotamos ou somos adotadas por elas.

Morre o homem que tenta atravessar o deserto da sua alma sozinho. A família em que nascemos e crescemos exerce um grande papel no processo. Guardada a índole própria, pois essa pode não se assemelhar a antepassado algum, somos produto do meio sim. Dos conselhos da mãe, das travessuras com os irmãos, vizinhos, primos, das reprimendas que os pais nos deram que servirão de freio para conviver em sociedade e muito mais.

Então quando acontece uma cisão, a perda de alguém que participou ativamente do processo de nos tornarmos quem somos, um pedaço nosso se vai nos deixando claudicantes. A gente caminha, raciocina, lê e escreve, mas é feito um instrumento que desafina às vezes porque algumas notas estão ausentes. Tem gente que se deprime e congela, outros focam na vida dinâmica que os aguarda porque é impossível contemplar o passado por muito tempo com tantas questões pululando na cabeça praticamente sacudindo-os exigindo solução. Mas por dentro o sangue goteja, a garganta resseca e os músculos retesam porque somos uma colcha de sentimentos.

Nesse momento de revolução íntima precisaremos de atividade externa, física, para combater a tristeza, mas também de gente querida que nos comprove que o mundo está mais tristonho, mas o mar ainda está lá assim como o sol, as cachoeiras, os pássaros e muito ainda pode ser realizado com o apoio do nosso círculo de pertencimento, a rede de proteção que não impede que o acrobata se desequilibre, mas previne que ele se fira fatalmente. Amar é acolher e ofertar pertencimento.