DESVIO DE ROTA
Os primeiros momentos que sucederam ao fim de seu casamento proporcionaram a D. Afonso o sabor daquilo que considerava um exílio familiar. Para arejar a cuca usufruiu das inúmeras oportunidades de se relacionar com muita gente. Gente de todos os níveis. Ainda em Brasília, associando-se a um velho amigo, o Danilo (que de tanto “gostar” de trabalhar ganhou o apelido de Adventista de Todos os Dias), comprou o Recanto – barzinho que logo rebatizou como “Le Botequin”, onde se reuniam os boêmios, profissionais liberais (nem tanto, visto que D. Afonso só reconhece um tipo de profissional liberal – a puta) e a turma do Notícias da Capital, capitaneada pelo competente Siqueira, o Redator-Chefe.
A dinâmica diária, ou melhor, noturna, do Le Botequin, servia para ampliar ainda mais o já considerável círculo de relacionamento de D. Afonso que, para fortalecê-lo, comprara um título de sócio remido do Discovery, night-club da elite taguatinguense, onde conheceu Dulce, digna representante da chatealite local.
Talvez pelo fato de D. Afonso ser naquela época uma personalidade conhecida, muito bem relacionada e portadora de um bom padrão de vida, D. Dulce resolveu investir fundo na relação. A cada dia um telefonema de conteúdo excitante. A cada conversa excitante, o agendamento de um encontro mais excitante ainda. Até a chegada do inevitável desencontro.
E este não demorou muito a chegar. Afinal, a única coisa que D. Dulce sabia fazer bem era aquilo mesmo. No mais, era fútil, tinha uma conversinha chata e já estava enchendo (mesmo quando esvaziava) o saquinho de D. Afonso que, para não ser mais grosseiro, preferiu deixar a relação morrer por anorexia.
Sentindo que a coisa não ia bem, Dulce apela chamando a atenção de D. Afonso: “Ah! Se você soubesse como sou bonita por dentro, não me tratava assim...”
- Admito e peço perdão pela ignorância. Como não estudei Medicina Legal, não sou capaz de conferir o que diz. Pena, não?
Administrando o tédio.