NINGUÉM VIVE MAIS SEM CELULAR

Volta! Volta! Gritava em pânico minha irmã puxando-me pelo ombro direito enquanto eu sem nada entender e espantado olhava pelo retrovisor. Felizmente havíamos acabado de sair da casa dela e o carro estava em baixa velocidade, deslocando-se da rua onde ela mora e ainda não tendo alcançado a via principal. Não fosse isso e estivéssemos com mais velocidade, por certo teríamos desgovernado e acontecido um acidente.

Parei o carro de pronto e virando a cabeça para trás perguntei:

- Que foi, criatura? O que aconteceu?

Julguei a princípio que talvez tivesse esquecido alguma panela no fogão aceso ou a televisão ligada, mas não.

Visivelmente descompensada, com a face torporizada, suando frio e tremendo ela respondeu:

- Volte! Esqueci meu celular.

Indignado retruquei que eu poderia ter causado um acidente, ao que ela respondeu:

- Sem meu celular eu não vou a lugar nenhum.

Não restando alternativa e para tranquilizá-la manobrei o carro e retornamos.

Ela desceu e foi buscar o maldito celular. Voltou com semblante aliviado como fumante inveterado que acaba de dar umas boas tragadas para satisfazer o vício e a dependência.

Em seguida entrou no carro e partimos novamente, dessa vez com visível semblante de satisfação, ao que pude ver olhando para trás pelo retrovisor.

Seguimos em frente e ela nada dizia, apenas olha o celular feliz por estar com o aparelho.

A verdade é que ninguém vive mais sem celular. Essa engenhoca além de conectar as pessoas com o mundo, aposentou despertadores, câmeras fotográficas, bússolas, telefones convencionais, calculadoras e tantos outros aparelhos que por anos serviram e muito contribuíram na vida das pessoas.

E com essa reação de minha irmã descobri surpreso que o celular tem mais uma utilidade: Funciona como marca passo, haja vista o estado em que ela ficou ao constatar o esquecimento do famigerado aparelho.

Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 28/03/2023
Código do texto: T7750624
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