LUGARES ONDE NÃO CAIBO (BVIW)

 

Um certo dia acordei com uma ideia maluquete de fingir não ser eu mesma. Então eu agiria de forma completamente diferente daquilo que sou. E lá fui eu para a representação. Abri a janela e reclamei dos passarinhos escandalosos: 

 

- Dá para parar com essa cantoria? Não bastam meus grilos gritantes na minha mente?

 

Um silêncio geral e uma desconfiança unânime de que algo errado havia comigo. A passarada, com certeza, fofocava sobre mim. “O que ela bebeu?”, “Está possuída por espírito mau.”, “Acordou virada no Jiraiya!”

 

Não satisfeita com o assombro das aves, corri os olhos para as flores e zombei:

 

 - Ah, de novo você? Por que não dá a vez para outra espécie? Todo dia a mesma flor, parece até música do Ronnie Von... “(...) as mesmas flores, o mesmo jardim...”

 

Não consegui, no entanto, levar adiante o meu intento de me passar por outra pessoa. Lutar contra a própria natureza é mais difícil que o imaginado. Fiquei triste e a vontade de chorar foi grande pela dureza do coração. Como pode alguém maltratar os bichinhos e as plantas? E eu nem cheguei a fazer essa experiência com humanos, e sequer passa em minha cabeça ferir uma criança com palavras, menos ainda com agressões físicas.

 

Como se consegue dormir e ser feliz depois de machucar ou matar alguém? Há partes do mundo onde eu não caibo.

 

#ProtejamNossasCrianças

 

Tema proposto pelo BVIW Crônica tema livre.

 

(BVIW - *BECOMING VERY IMPORTANTE WRITER/ "Tornando-se um escritor muito importante").