ÁGUAS DO BATISMO (Maria Alice)

Fui na igreja convidado, de meu irmão e de sua esposa Patrícia, para o batizado de sua filha que se chama Maria Alice. Antecipadamente me preparei e peguei um taxista de aplicativo uber. E segui pra igreja... Conhecida como Igreja da Sé. No percurso, um engarrafamento muito comum nestes dias cotidianos na varredura do entorno do Ver-o-Peso. E conversa vai e conversa vem com o motorista conversas banais trânsito, violência e coisas afins.

Ele o motorista se dizia que era Youtuber e me deu seu endereço virtual, caso quisesse saber de suas aventuras como motorista de uber na grande Belém, seus casos diários, agradeci. E ele me deixou na frente da igreja.

Chegando lá vi minha sobrinha com seu namorado atrelados ao banco da igreja. Falei o básico e me desloquei para a lateral da igreja que é toda perfeita, apesar de ter mais de trezentos anos. Fui até a porta lateral e pude constatar uma feirinha ao lado dela onde estavam mulheres vendendo peças de roupas usadas e também acessórios como bijuterias etc. Voltei-me pro seu interior entrincheirado, havia outras pessoas vendendo aromas e outras sentadas para recebimento possível do dízimo. E lá numa das janelas barrocas que dava para uma praça. Fiquei a meditar. Olhando o farfalhar das árvores e a observar as janelas centenárias, e os afrescos com uma perfeição quase divinas em suas nuances e cores coladas as paredes. E no teto também afrescos lindos amalgamados no teto. E sequer imaginar a perfeição daquelas artes na época numa gestação de tamanha inspiração. Uma obra de arte diante de meus olhos barrocos.

Enfim as horas se passavam e nada de chegarem os convidados e seus anfitriões. Nisso eu estava com um tratamento de um remédio que era um diurético que me fazia ir urgente ao banheiro. Só que numa igreja de 300 anos enorme. Fica difícil de imaginar se existe um banheiro com tanta urgência. Isto posto, fiquei analisando o que fazer? Pois muito que bem., nesta hora em que gozar é quase o mesmo ato obrigatório de mijar. Eis o desespero de evitar o gozo final para alívio geral da nação fisiológica. Então neste ínterim vi um rapaz com a camisa da igreja, moreno, e que tinha uma chave abrindo uma porta a minha frente. E perguntei a ele. Moço, tudo bem? -É que estou vendo que você trabalha aqui. Ele afirmou que sim. E eu o indaguei. Você sabe se tem um banheiro aqui nesta catedral. Ele me olhou me fitando nos olhos e me mostrou um corredor de quase 40 metros adiante e me disse: siga este corredor e eu perguntei mais aonde é exatamente? Ela redarguiu da pergunta e neste ínterim, quase no final até onde dava meus olhos, estava saindo uma pessoa de uma porta afunilada no vão do corredor. No que ele imediatamente falou-me. Está vendo é lá onde saiu aquele rapaz. Eu agradeci. E fui andando pelo corredor enorme, até a porta de onde saiu o indivíduo que ele havia apontado; pois muito que bem. Lá na porta chegando. Abri ela sorrateiramente e vi que se tratava de um outro corredor de uns 25 metros mais ou menos, só que, ao olhar para as paredes laterais percebi que eram nomes que estavam lavrados em gravuras marmóreas, tipo gavetas e foi aí que percebi que quiçá eram os padres falecidos ao longo dos trezentos anos que foram enterrados e depositados naquelas gavetas marmóreas. Pois lá estavam escritos seus nomes e datas.

Por fim quase desisti de procurar o banheiro. Mas segui adiante pela fé da urgência fisiológica, já meio claudicante. Pois via que a possibilidade de ter um banheiro naquele corredor claustrofóbico da morte me parecia mais distante e mesmo assim continuei. Havia uma energia naquele corredor de incerteza mais ao mesmo tempo de paz. E segui adiante, quase no final do corredor. Havia um casal, que logo me olharam com ar de indagação. Eu os olhei meio que incrédulo. E perguntei a eles -Tudo bem???!

Me responderam -Sim. E eu então percebi que eles estavam saindo de uma porta subterrânea. Estavam-na fechando. Aí perguntei a eles se havia algum banheiro ali por perto. O que parecia redundante, já que naquele corredor eu já estava a um metro do final. E eles disseram que não. Eu lhes afirmei que o rapaz lá da frente da igreja me dizia que havia um banheiro ali perto. Eles negaram e ficaram me olhando com incredulidade e eu disse a eles vou até o final do azulejo, no que me olharam perplexos, já que menos de um metro findava na parede do corredor. E para minha surpresa? Olhei pra minha direita existia uma portinhola côncava pequena no formato de uma ferradura pra baixo. Eu a adentrei e lá estava um banheiro limpinho onde pude me deliciar no gozo da depuração, puxei a descarga. Saí e ao voltar para o corredor o casal havia sumido como assombração (cruz credo!) totalmente por completo e ainda procurei-os em vão para tentar dizer-lhes que encontrara o sumidouro . Voltei para a missa onde o batismo de Maria Alice havia se consumado. E o diácono no final do batismo, havia dito que quando ele a batizou com óleo ela havia chorado, mais quando fez o batismo dela na água da pia batismal, ela havia parado de chorar. E coincidentemente, eu, sem a imprestável água interior que quase me fazia chorar, depois de liberta., aliviado sorri e parei de gemer...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 08/05/2023
Reeditado em 08/05/2023
Código do texto: T7782615
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