Aniversário de 15 anos

“Aniversário de 15 anos”

Izailda tem 25 anos. É o seu primeiro filho. Filha. As dores aumentam. Tenho mil coisas a fazer, sempre. Hoje e amanhã. Li que o papa está gripado. Papa fica gripado? Muita gente falando da novela Pantanal e agora do Carrossel. Eu ali, no aguardo.

Não tenho filhos. Nem um ano de casado fiz. A menina que vai nascer é muito esperada. A família em peso circunda a sala. A madrinha diz impropérios para o serviço de enfermagem. O pai está tenso. Mas confia.

Nasce. Deborah. Dia 28 de junho de 1991. Formei em janeiro de 1988. Comecei este pré-natal assim que terminei a residência. Já se passaram quinze anos.

- Doutor João?

- Faaaala Izailda.

- Vim trazer o convite.

- De que, mulher?

- Do aniversário da minha filha.

- A Deborah?

- O senhor lembrou o nome dela? Que legal! Espero todos lá. O senhor vai dançar a valsa.

Valsa... Quantos aniversário fui entre os anos de 78 até 80, quando passei no vestibular? Quantas fotos – hoje embaraçosas- tirei naquela época? E eu girava. Girava. Girava.

Estou só nesta noite de lua bonita. O casal me recepciona na porta. A menina é linda. Os rapazes são tão novinhos... Seria eu assim? Tão cheio de ideais e vazio na carne? A energia pulando fora do meu blazer?

Cumprimento a todos. Sou gentil. Sento com um casal simpaticíssimo. Não reconheço ninguém. Mas a família toda se lembra de mim. Meus gestos são descritos inúmeras vezes, não mudaram. Sou homem de hábitos.

Alguns médicos chegam. Sento com eles. Estou deslocado. Mas converso. Falo do genérico. Mas rapidamente digo poesia. Falo sobre o amor perdido e os encontros renovados. Sobre as idas e vindas infindáveis da lida.

Sou chamado para a fila. A apresentação de cada um dos personagens da festa é esmerada. Não quis dizer meu currículo. Só meu nome. E acrescentei: médico e amigo.

O avô, o pai, o padrinho, dançam. Agora sou eu. Tenho novamente quinze anos. E bailo leve e a aniversariante rodopia. Conto um segredo. Ela sorri. A platéia embevecida aplaude. Novamente ela sorri e joga os cabelos para trás. Que lindo é ver uma jovem mulher feliz. Eu cinjo sua cintura e lentamente me separo, a música cessa.

Meu pensamento está longe, muito longe. E ali, dançando, vi que a existência é só um passo para o lado, outro pra frente e outro pra trás. Mas quem conduz, é a gente. São quinze anos. Onde estive eu sei, onde estou também sinto. Mas para onde vou? Só posso dizer que deixarei sempre o bom som da vida me levar...

JB Alencastro

JB Alencastro
Enviado por JB Alencastro em 15/12/2007
Código do texto: T779226
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