Gente má

Os vereadores curitibanos andam muito incomodados com essa história de ter um restaurante só para dar marmitas às pessoas em situação de rua na cidade. Isto é, podem dar as marmitas, mas não no centro da cidade, na frente de todo mundo, perto dos turistas. Que montem esses restaurantes lá na periferia, lá na favela, em um gueto qualquer, bem longe dos olhos de nossos ilustres edis.

Nossos vereadores se justificam dizendo que essas pessoas não têm nada o que fazer no centro, onde só atrapalham o comércio e ofuscam as belezas arquitetônicas do centro histórico da cidade. Além disso, há muita gente má que é atraída para esses lugares. Gente má, para os vereadores, é gente que pede esmola com veemência, mas que jamais seria má o bastante para se comportar como um vereador local.

A posição dos vereadores é tal que faz a população ficar ao lado da prefeitura, situação inédita em Curitiba. A prefeitura está deitando e rolando agora, dizendo que não vai mudar o restaurante de lugar coisíssima nenhuma. E já ninguém lembra que há pouco tempo o prefeito quis multar quem desse comida para os pobres sem passar pelas sacrossantas mãos da prefeitura, única autorizada a ser cristã.

O vereador Eder Borges, a despeito da sua própria aparência, lamenta que o centro da cidade tenha se transformado em um Zombie Walk. Ele também já protocolou um pedido para a criação de uma campanha para desincentivar a esmola que, promete, irá convencer o próprio Jesus a largar a caridade. Aliás, Jesus disse para fazer a caridade de forma oculta, e não no centro da cidade, pra turista ver.

O ilustre vereador diz que a presença de pessoas em vulnerabilidade em plena região central de Curitiba já tem atraído ratos, baratas e outros bichos. Nenhum, no entanto, mais nocivo que os vereadores.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 12/06/2023
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