O Pioneirismo da Cesta Básca*
| O pioneirismo da “Cesta Básica” |
* Texto extraído do livro As Crises da Vida (Fragmentos de uma existência), editado em novembro de2007
*********
Ainda nessa fase etária ou crise infanto-juvenil, recordo-me de uma Semana Santa de especial valor para mim. Morávamos vizinhos ao Major Camboim, conhecido por todos como o homem mais rico da cidade.
Mais do que Dinarte Mariz, Eduardo Gurgel, Stoessel de Brito, e seu
Agatângelo, outros grandes do lugar. Diziam ser dono do Banco Rural de Caícó e possuidor de mais de cento e cinqüenta contos de réis
Na Semana Santa de1939, talvez em virtude do “sucesso” do carnaval, convidou-me para ajudá-lo na distribuição das esmolas para o jejuo. Não sabia direito do que se tratava, mas, orgulhoso da deferência, aceitei o convite.
Em frente à sua enorme casa e em baixo de um frondoso tamarineiro
fazíamos à distribuição dos alimentos.Não entendia bem porque as filas
se constituíam de pessoas comuns, não necessariamente esmoleres.
Com o tempo, fiquei sabendo que, embora os alimentos fossem considerados esmolas, eram especificamente para “jejuar”. Somente para isso.
Não sei, igualmente, a origem desse costume, hoje desaparecido. Seria uma atitude religiosa cristã; uma projeção no tempo da lembrança do milagre da repartição dos pães?
Meu desconhecimento vem do propósito assumido ao resolver escrever essas reminiscências de não efetuar qualquer pesquisas sobre o fato ou assunto narrado. Que fosse aproveitado apenas o que ficou nas empoeiradas prateleiras da memória, como diria o saudoso João Machado, misto de desportista e perdulário de enorme patrimônio recebido por herança.
O desaparecimento daquela prática, por sua vez, seria a natural mudança dos costumes, ditada pela atual conjuntura sócio econômica do país?
Na dúvida, registre-se que os alimentos distribuídos se constituíam de
feijão, arroz, farinha, rapadura e bacalhau.
Havia certo preconceito em relação ao bacalhau. Era considerado “comida de pobre”, e dos “presos da cadeia velha”. Quanto aos pobres era em razão do baixo preço, mas quanto aos presos, havia um motivo especial. Serviam-lhes “salgado”, mas negavam-lhes água para matar a sede. Uma disfarçada forma de tortura.
Mas fica aqui um registro importante: o pioneirismo de distribuição de
Cesta Básica não deve ser creditado ao Presidente Lula, mas ao Major
Camboim de Caicó.
|