A FÉ COMO ELA NÃO É

Certa feita, andando meio que a esmo nas ruas do bairro onde morei, cidade de Jundiaí, estava desesperançoso, desempregado, triste, família pra cuidar; Caminhando pela Rua Prudente de Morais (nasci nesta rua) havia um salão onde se reunia uma Igreja, e naquele momento que passava estava acontecendo um culto, eram mais ou menos três da tarde. Resolvi entrar, afinal não tinha nada a perder e estava precisando mesmo de uma palavra de conforto. Na entrada escrito num dos cartazes que ao final do culto todos receberiam uma fita benta, dessas de amarrar no pulso. Sentei-me num dos bancos. O Pregador usava vestes de Padre, o nome da Igreja não me lembro, mas não era a tradicional Católica Apostólica Romana. Mas isso no momento não importava em nada, ouvi atentamente a pregação. Antes de terminar o Pregador falou sobre o dizimo, explicando sobre as despesas que a Igreja tinha para a manutenção do local:

------- Quem tem cem reais para ofertar?

Acho que um ou dois levantaram a mão e foram chamados para ficar la na frente;

------ Quem tem cinquenta? Mais uns três ou quatro levantaram a mão e foram chamados para ficaram la na frente; E assim foi: quem tem trinta, vinte, dez, cinco, nesta altura quase todos estavam la na frente, ali sentados eu e mais um coitado, mas Pregador insistiu: "Quem tem pelo menos um real para ofertar?" Um olhou para a cara do outro e ficamos na mesma, sem contar o constrangimento, porque todos estavam olhando pra nossa cara, como a dizer: “que gente é essa que não tem nem um real no bolso?”. O outro não sei, mas eu não tinha. Então o Pregador mandou que as pessoas fizessem uma fila para receber a tal fita. Claro, entrei na fila, o outro nem quis entrar. Eu era o último, e a fila seguia lentamente. Finalmente chegou minha vez, pensei: "agora vou receber a fita abençoada". estendi a mão, o Pregador olhou bem pra mim e disse:

------ A fita acabou de acabar!! Quem sabe noutro dia.

Percebi um sorrisinho de escárnio. Pois é, eu não tinha nem um real para receber a fita abençoada..... Sai de la desiludido.

Dois ou três meses depois o salão foi fechado. Ninguém soube para onde a Igreja mudou talvez para um lugar onde não tivesse outro Andrade Jorge tão duro quanto, que não pudesse ofertar pelo menos um real aos amáveis Pregadores.

Não é texto de criação, aconteceu.

AUTOR ANDRADE JORGE, ACADÊMICO DA ACADEMIA NACIONAL DE LETRAS DO PORTAL DO POETA BRASILEIRO E ACADEMIA SALTENSE DE LETRAS

29/06/16