DRAGÕES E ABALOS SÍSMICOS

Quando eu era pequena eu tinha medo de dragão. Depois que fiquei adulta, não posso dizer que mudei muito. Costuma-se dizer entre nós o quanto é bom ser brasileiro, morar num país que não tem “vulcão, tsunami e terremoto”. Se no caso das duas primeiras, a sabedoria popular pode ser obviamente confirmada, na terceira é que a coisa se complica. Como alguns brasileiros adultos, eu também tenho medo de terremotos.

Um tremor de terra é algo pouco conhecido, mas o fenômeno acontece em menor ou maior grau em todas as regiões do Brasil. O Observatório Sismológico da Universidade de Brasília - pioneiro no país – registrou, na última década, cerca de quatrocentos fenômenos com magnitude igual ou superior a 3.0 na escala Richter.

A grandeza de 3,0 na escala que leva o nome de seu criador - Richter - diz respeito ao tamanho do abalo ou à energia liberada. Considerados fracos, os fenômenos em torno de 3.0 podem ser sentidos no dia a dia e causar pequenas rachaduras nas construções. Em torno de 5,0 podem ser considerados perigosos, como, de fato, ocorreu na comunidade rural de Caraíbas, Norte de Minas, município de Itacarambi, causando a morte de uma menina e gerando o abandono da região pelos seus moradores. No Brasil, os valores máximos já registrados foram de 9,0, quando a destruição é total se o terremoto ocorrer em áreas ocupadas por agrupamentos humanos, rurais ou urbanos.

A terra tremeu com maior freqüência, quer dizer, com regularidade, nos últimos anos, no Rio Grande do Norte (João Câmara), Ceará (Cascavel e Pacajus), Mato Grosso do (Porto dos Gaúchos), Pernambuco (Caruaru) e Minas Gerais (Pedro Leopoldo, Betim e Igaratinga).

Segundo nos informa Lucas Vieira Barros, (Unb) em 2002, “a população de Pedro Leopoldo (MG), por exemplo, sentiu por duas vezes os efeitos dos tremores que mexeram com a tranqüilidade da pequena cidade. O mais forte ocorreu dia 6 de maio, às 3h12m, com 3,0 graus na escala Richter. No dia 30 de abril, a terra tremeu às 13h19m, atingindo 2,7, seguindo-se novo abalo, sete minutos depois”. Os abalos, sabemos, puderam ser sentidos pela população de Lagoa de Santo Antônio.

Se boa parte do Brasil, então, pode dizer que não tem medo de vulcão, tsunami e terremoto, nós, de Pedro Leopoldo, não podemos tranquilamente engrossar esse coro. Conquanto os estudos da área afirmem que no Brasil não devemos temer por terremotos de proporções catastróficas, sou da opinião de que é melhor prevenir do que remediar. Afinal, quem nos garante que estamos livres de algum terremoto, mesmo que em pequena escala, já que entre os 3,2 pontos registrados aqui em 2002 e os 4,9 registrados em Caraíbas há uma pequena cifra? Tenho me interessado muito pelos estudos sobre o fenômeno na região e penso que a população deve se informar.

Ainda segundo esclarece o professor, Pedro Leopoldo (que, se você não sabe, é minha cidade natal) está situada em uma região “com grande número de cavernas e dutos aquáticos, além de alta concentração de calcário — tipo de solo menos rígido”. Então, “toda vez que a placa sul-americana precisa se adaptar, regiões geologicamente irregulares, como a de Pedro Leopoldo e da Serra do Tombador, acabam sofrendo abalos”

Os estudos recentes, contudo, ainda não são capazes de prever novos abalos. Contudo, de uma coisa eles nos deixam cientes: se aconteceu uma vez, pode acontecer de novo. Seria importante, no nosso caso, ter consciência de quais são os impactos da exploração das reservas minerais nos movimentos sísmicos. Nesse caso, posso estar a falar uma grande besteira, mas é bom levantar essa pergunta que no imaginário popular dos moradores da cidade, em especial diante de notícia de terremotos em outros lugares.

Contudo, boa parte da população e seus representantes somente tomarão providência caso ocorra algo mais sério, como no caso do sujeito que coloca cadeado no portão depois do arrombamento. Venho me perguntando se será algum dia necessário despovoar alguma região da cidade por conta da possibilidade de abalos. De fato, não sei. E se alguém souber, por favor, divulgue para que saibamos melhor.

Como você vê essas preocupações não são de uma pessoa muito informada a respeito do assunto, vêm de uma moradora preocupada, como tantos outros que aqui residem e esperam aqui poder passar a velhice.

Que venham os estudos sobre nossa região, e que recebam tanta verba quanto equivale o barulho surdo que pode ser ouvido ao cair da noite, se você fecha os olhos e percebe que algo dinamita rocha calcária num lugar bem próximo de sua casa, bem abaixo, onde estão adormecidos, por ora, alguns dragões.

REFERÊNCIAS

http://www.secom.unb.br/bcopauta/sismologia1.htm

http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020530/vid_mat_300502_21.htm

Publicado em dezembro de 2007 no Jornal Aqui

Júnia Sales
Enviado por Júnia Sales em 17/12/2007
Reeditado em 19/12/2007
Código do texto: T782300
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.