Um livro de Monteiro Lobato

Um dia desses, sem nada demais a fazer, resolvi dar uma volta aleatória pelo parque, andei, andei e andei quando, de repente, percebi que tinha perdido a noção dos passos e do caminho, o que era um parque com árvores esparsas se transformou em uma floresta fechada e sombria, procurei o caminho de volta e nada.

O que tinha tudo para ser um passeio tranquilo, virara um conto de fada às avessas, pois, ao seguir adiante, percebi um movimento de fumaça, ao me aproximar, vi um moleque de uma só perna sorrindo para mim, fumava cachimbo, usava gorro vermelho e não parava de dar gargalhadas, me deu um frio na barriga e comecei a correr, o mais rápido que podia, nem olhei para trás, na certeza de que um ser com uma só perna não me alcaçaria na corrida, parei esbaforido para descansar, quando me dou fé, o mesmo moleque travesso sorria ao meu lado, não tive outra escolha, pulei num riacho, o danado não pulou, talvez não nadasse com uma perna apenas, a fuga deu certo, comemorei, desta vez estaria a salvo chegando à margem. Ao sair - ainda escorrendo - do riacho, tive outra surpresa, ao meu lado passara uma mula sem cabeça fugindo de um ser parecido com um jacaré que andava de pé, ufa! dessa vez uma moita me salvou, mas nem pude recuperar o fôlego e reparo alguém estranho bem na minha frente, ele tinha os pés virados para trás, apontava as mão para mim, dizia que iria me pegar, só que, quando começou a correr, acho que se atrapalhou com as passadas das pernas viradas, confundiu os sentidos e foi em direção contrária, gritando que iria me pegar.

Após ofegante e ansiosa busca, encontro a tão desejada saída em um buraco na tela de alambrado, do outro lado era bem iluminado e movimentado, havia pessoas alegres e tranquilas, respiro aliviado, só por precaução, dou mais uma olhadinha para trás e, para minha surpresa, caio em um buraco profundo, acordo com o coração acelerado, vejo que está em minhas mãos: um livro do Monteiro Lobato.