QUE PIPA QUE NADA

Hoje em dia vejo não só crianças como também adolescentes e adultos com barba na cara empinando pipas desengonçadas que para subir na maioria das vezes requer esforço físico para fazê-la alçar voo.

Rolos de linhas que mais parecem manilhas de esgoto de tão grande que são.

Rabiolas dão um certo equilíbrio nas pipas no ar para que não fiquem desgovernadas como borboletas ao vento forte.

Pipas fabricadas e estilosas. Rabiolas cuidadosamente confeccionadas. linhas chilenas perigosamente cortantes.

Revendo nos arquivos de minha memória, busquei imagens da minha infância pobre.

Não tinha dinheiro para comprar arraias (E não essas pipas mequetrefes). Não podendo comprar arraias, a opção era folhas de cadernos dobradas em x e perfuradas para que pelos furos enfiassemos taliscas de palhas de coqueiro. Pronto! Estava confecionado o "cachelebreque" (assim chamada as arraias que os meninos pobres faziam).

A rabada (e não rabiola) era confecionada com cordas de saco de alinhagem (daqueles sacos que vem com batatas inglesas) que desejávamos do saco e amarradas umas as outras compunham um tamanho satisfatório para dar estabilidade e jogo ao "cachelo".

A linha que usávamos era de pedaços de linha embolada que encontrávamos de garotos de posse que ao embaraçar a linha a descartava dando-nos a oportunidade de resgatar aqueles emaranhados e destrinchar em pedaços emendando-os a seguir. Quando empinávamos nossa arraia improvisada com aquela linha cheia de nós a satisfação era imensa. No céu, nossos "cachelebreques" não ficavam devendo nada as arraias dos meninos ricos.

A linha tinha tantos nós que mais parecia um navio com a tripulação formada em detalhe especial para o mar. Dava pra ver os nós de longe, perfilados em intervalos de metros.

Outra opção para quem não podia comprar arraia ou tinha preguiça de fazer "cachelebreques" era passar o fim de semana correndo atrás de arraias cortadas e linhas emboladas para utilizar durante a semana.

Assim vivíamos felizes. Não tínhamos tudo que queríamos mas amávamos tudo que tínhamos.

Poderíamos fazer também periquitos de papel dobrado a maneira de origamis. Subia que era uma beleza. E alçava os ares tal qual arraias e "cachelos".

E ninguém reclamava da periculosidade da linha.

Hoje em dia até empinar pipas, arraias ou periquitos é perigoso.

Geração chata essa de hoje. Muito mi mi mi.

Saudades da infância de outrora.

Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 12/07/2023
Código do texto: T7835083
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