Reminiscências

Hoje me peguei de surpresa, pensando naqueles nossos “ontens”, quando, entre um beijo e um sorriso, fazíamos planos para os nossos “amanhãs”. Havia dificuldades sim. Havia problemas sim, mas, nada nos impedia de comer pizza e de brindar momentos entre fatias e tim! tim! Íamos para o trabalho todos os dias confiantes que tudo daria certo. Sem, no entanto, tirar os pés do chão e sem muita ilusão, pois, sabíamos que com a vida não se brinca não! Íamos de busão, íamos de bike, mas, sempre com um sorriso no rosto e gratidão no coração, afinal, nossa vida tinha muita cor e um amor cúmplice e franco. E quando Deus resolveu nos abençoar, saímos do vermelho, deixamos de ver a coisa preta e passamos a andar de carro branco! Ficamos um tempo vendo tudo azul e vivendo uma vida cor-de-rosa. E mesmo a vida não sendo um mar de rosa, tínhamos lá nossos dias de vento em popa. Então saíamos para comprar sapatos e roupas.

Quando eu chegava do trabalho, lá estava você, preparando o jantar com um sorriso na boca e um certo brilho no olhar e só de te olhar ali, suada naquela cozinha pequena e quente, brigando com as crianças que corriam naquele sol quente do horário de verão. E eu ficava ali te olhando admirado e com o olhar cheio de paixão. Quanta emoção! Eu brilhava de alegria e gratidão por ter recebido você de presente. Aos domingos íamos à igreja com as crianças ser gratos a Deus pelas bênçãos recebidas e louvar a Ele com amor e fé, pois, quando Deus nos dava uma “mão”, sabíamos que tudo ia dar pé!

Mas, um dia, de repente, as coisas ficaram esquisitas e fora de ordem. Perdemos um pouco o rumo e saímos um pouco do prumo. Muita coisa mudou e muitas ficaram estranhas e amargas. Por isso, hoje eu sinto falta daquela mulher que me tinha como tudo e me dizia sempre que nunca me trocaria por nada! Sinto falta daquela menina que chorava nos meus ombros quando as coisas apertavam e que eu carinhosamente contra o peito apertava. Sinto falta daquele “eu” que tinha você como a única entre todos os vestidos, saias, meias e túnicas. Sinto falta daquele “nós”. Sinto falta dos nossos braços das nossas pernas se entrelaçando em nós…Sinto falta do teu “porque?”, do teu “pra que?” Sinto falta até das tuas implicâncias, do teu creme, dos teus bolos de fubá com creme e até mesmo da tua TPM! Sinto falta daquele teu "quê". Sinto falta daquelas poesias românticas e daquelas com “versos quentes” que eu escrevia e que você pedia, sentada na cama, para eu ler. Sinto tanta falta daquele “eu”. Sinto falta daquela você!

E hoje, enquanto você vaga perdida no mundo, enquanto eu já não me encontro nem por um segundo, vejo que nossas vidas foram reduzidas a um monte de “pós”! Então, não sei você, mas, eu sinto muita falta daquele “nós’!