Resposta

“Sim, aceito”. Foi o que eu lhe respondi depois de segundos de observação. Era uma sala e duas poltronas; eu sentado na menos confortável e ela com os pés sobre a mesa de centro. Eu não sabia ao certo decifrar todos os olhares e silêncios. Tentava observá-la, mas era ela quem me seguia, em todos os passos. E às vezes eu me surpreendia quando ela conseguia mostrar algum sentimento. Era sempre tão quieta, calada, sombria... É. Eu a via assim.

Eu pensava em cada palavra a ser dita, combinando-as, à espera de uma resposta qualquer que pudesse quebrar aquele desconfortável sossego. Eu interrompia contando-lhe segredos, talvez ela também quisesse contar. Eu realmente não entendia e, ainda hoje, não a entendo. Parecia esperar o momento de dizer adeus, olhando sempre em volta ou para o relógio.

Eu não podia imaginar quando teríamos outro momento daquele, um momento de solidão meu – e dela. Não reclamo. Eu até gostava de examiná-la entre os movimentos de braços, cabeça... Mas esperava um efeito. Queria conhecê-la e não me contentava em contar os meus segredos para as paredes (e achava que drama era coisa de mulher). Ah, e foi quando eu já não esperava e ela me fez uma proposta: “Nos encontramos amanhã?”. Sei que não foi bem uma proposta, talvez um modo de se despedir. Mas, ainda assim, era uma maneira de nos (re) observarmos.