Ele teria que continuar viver

O estrondo era terrível, na sua alma sentia como se seu corpo estivesse soterrado nos escombros de um violento terremoto. Ao caminhar encontrava em cada canto terríveis monstros humanos. Além das mortes provocadas por meios naturais, ele presenciava matança, carregada de terror em que uns praticava nos outros.

É claro que isso tudo estava em sua mente tumultuada, onde quer que estivesse aquilo não saía nem a pau. Os sofrimentos continuavam atrozes, repetia seguidamente:

-- Deus, se for possível me tire desse viver!

Escutava sempre as respostas do Criador:

--- cada mortal muitas vezes provoca sua dor.

--- mas eu já paguei até mais do que devia Senhor (e como repetia o pecador) por misericórdia!

Ele tinha motivo para carregar tanta infelicidade. Um dia foi plenamente feliz, dono de tudo que muitos mortais pudessem invejá-lo, uma beleza magistral, situação financeira praticamente acima da média, incluindo tudo isso ainda possuía o amor de sua namorada lindíssima tanto no exterior como no interior. No namoro era como se o céu estivesse completamente na terra, os momentos juntos de um sabor indescritível.

Pela sua altivez até monetária, os pais da namorada forçaram o casamento. Foi realizado na maior pompa! No começo da vida a dois, era ainda um Céu na terra, só flores, o lar um jardim isento de espinhos. O amor acompanhado da paixão, contribuía para a felicidade total.

Veio os filhos, um casal, gêmeos de uma vez só, um menino e uma menina.

Na medida que passava os anos a vida tornava-se enfadonha. Começavam as discussões sérias. Seria mentira de que o amor vence tudo? Naquela situação parecia que sim, porque ele já começava a procurar novas aventuras, outros deuses para seus deleites, paixões mais avassaladoras, egocentrismo, afinal a felicidade não poderia acabar. Querendo partir para o mundo, comunica à sua esposa. Ela chorosa, implora, perdoaria tudo, mas não queria que ele deixasse o lar, as crianças precisavam dele também. Ele responde cheio de presunção:

--- vou separar, mas o dinheiro nunca vai faltar eu prometo. Ela retruca:

--- o dinheiro não vai nos suprir a falta de amor!

Mas não adianta, o príncipe que naquele momento já tornara sapo. Parte para viver completamente em liberdade. Vai pra longe, atravessa fronteiras, a vida dali em diante teria de ser às mil maravilhas. Viver bem teria que ser assim.

O tempo foi passando, quando ele deu por si já tinha percorrido o mundo em extasiantes aventuras. Apesar da situação financeira ir de ainda de vento em popa, começava a faltar algo. As aventuras tornavam-se cada vez mais frustrantes. Os anos novamente iam passando parecendo acompanhar a velocidade da luz. Decepções mais decepções, as traições dos “amigos” eram visíveis.

Quando estava sozinho em seu apartamento sentia como se fosse um farrapo humano. A tristeza estava em todos os seus poros, talvez uma leve saída seria o suicídio? Não, por isso que fizera aquele pedido ao Criador, se for possível me tire desse viver!

Depois de muito pensar ele reconhece tamanho sofrimento, tinha esnobado o amor, esse é um dos maiores pecados, porque o amor está acima de tudo neste mundo cheio de contraste. Lembrou de que a última vez que pretendia abandonar o lar sua esposa chorosa implorava que ficasse, perdoaria toda sua infidelidade.

Nossa! vou voltar, mesmo já tenha passado muitos anos, Deus, me perdoe vou de novo ao encontro do amor, pedirei perdão aos meus entes queridos.

E ele volta atravessa novamente as fronteiras, com o coração dando salto no peito, teria que dar certo. Nos seus pensamentos torcia, ansiava pelo perdão, mas seria recebido de braços abertos? Ou encontrará outro que conseguiu fazer aquele lar feliz.

Por isso que o autor não colocou nomes em seus personagens, só “ele” “ela” “eles” tendo os filhos também. Pior que na realidade pode não ser um final feliz, vamos torcer que sim, que ele ao chegar sua esposa completamente absorta o abraça e diz:

--- Deus ouviu minhas preces, você voltou, nunca deixei de te amar!

Mas pode ter outro final também, completamente diferente, não, nem é bom pensar...

--- FIM ---