SER INVISÍVEL

Nas andanças por tantas veredas, não é raro passarmos por pessoas que convivemos e nem por isso sabemos quem são esses agentes.

Eles estão ali todos os dias, talvez já até os cumprimentamos, com discreto aceno, fazendo cumprir a etiqueta social.

Por mais que possamos ser tão simpáticos, não é surpreendente querer e não conseguir lembrar o nome do vizinho da alameda, do atendente da farmácia, do gari que limpa a rua. Todos esses episódios são recorrentes, e nem por isso, não nos cabe a pecha de pouco social.

Vivemos numa grei, e assim a necessidade de constante troca é algo imperativo para a sobrevivência da sociedade moderna.

Desde o nascituro, aquele egresso de outras jornadas espirituais, ao retornar a orla terrena, terá a urgente busca da interatividade, nem que seja com aquela que lhe dará o peito para se sustentar nos primeiros tempos da sua caminhada.

O ser invisível para alguns, pode ser até certo ponto, algo conveniente.

Ainda ao se considerar as questões sobrenaturais, todo ser agênere, é invisível aos olhos dos comuns. Esse ser ainda que não possa ser percebido por microscópios, ou por super telescópios, ele existe, creia ou não, seja a sua profissão de fé.

O trânsito dele é imperceptível para tantos, todavia, não se pode afirmar o que o faz impalpável, ou se nós é que não conseguimos vê-lo.

Cheguei até aqui pra lembrar que nesse agosto completei mais uma etapa de vida, e há algumas semanas vinha com essa ideia de escrever a respeito desse tema. Nos últimos meses me vi pensando a respeito de como ser visível aos olhos dos outros; e como os outros talvez, nem tanto abstratos me veem.

Quando me despi para discorrer sobre esse assunto, como das outras vezes, foi como mergulhar num oceano, e simplesmente nadar a esmo. Ora me via dando braçadas para direita, para esquerda, para mais fundo; ora voava ao espaço infindo sem nenhuma amarra. Em dado momento não me dara conta que caminho teria percorrido, mas como toda a via, ao olhar pelo retrovisor do tempo, notei que existia uma trilha demarcada, um tanto quanto torta, sem nenhuma retidão, porém com as minhas pegadas.

Pausa...

Cheguei até aqui, Sessenta, se senta, senta e sente, quem sabe, cento e sessenta, haja e sinta, simplesmente seja o ser...

Os questionamentos depois de algumas décadas, nesse estágio continuam a ser incontáveis, tanto mais quanto os anos vividos; sou questionador contumaz, e disso não abro mão. Aquele que não souber me responder, que peça para pular a questão; Aquele que entender que ainda não aprendi a ler direito, que de mim tenha compaixão.

Ser invisível ou imaterial, eu penso que não exista de todo sempre, em algum momento todos seremos expostos, até porque, de tudo que há no mundo, quem inventou, não criou para ser um eterno segredo seu. Até a luz do sol que magnificamente se põe ao final da tarde, faz-se exuberante logo após a planície, para no outro dia brilhar novamente, tanto para os que creem, quanto para aqueles que pensam que enxergam o que não é crível. E depois que ele se vai, sua luz se esvai lentamente, permanecendo a iluminar os incautos, míopes e arredios que não se dobram a sua magnificência.

Ele se foi a iluminar outros pontos?

Na plenitude do alto da ignorância, e no apogeu do egocentrismo, poderia jurar que ele gira em torno de mim, mas quando submerso ao infinito escuro do meu eu, percebo que naquela viagem, onde deixei meus pés marcados, com a única posse de um pavio roto de uma lamparina quase sem lume, reconheço que se tornar visível é passível de antes de mais nada, deixar-se reconhecer perante si mesmo.

Não sei porque e quem inventou esse cenário, deixou que cotidianamente eu possa ver e rever todos os conceitos que me são apresentados dia pós dia.

Antes de querer beijar a mão do português da padaria, antes de exigir que eu possa ser visto como me imagino, urge a vez de se enfrentar a escuridão do ser.

Cheguei até aqui. Pausa novamente...

Tenho a impressão que há algum ser imaterial a me espionar, sem pressa e sem se entristecer;

e com as suas mãos invisíveis me deixa eu somente ser.

Cheguei até aqui...

Sessenta, se senta, senta e sente, quem sabe, cento e sessenta, haja e sinta, simplesmente seja o ser.

PEDRO FERREIRA SANTOS

PETRUS (270823)