DOMINGO À TARDE (BVIW)

Andar pela cidade no domingo à tarde é diferente de outros dias. Resolvi dar umas voltas pelos lugares por onde sempre passo e parece que não os via há anos. Sem gente nas calçadas, sem a zoeira dos carros e motos, o vaivém dos ciclistas, a cidade cochila preguiçosa. Os moradores, acomodados no descanso dominical, não abrem janelas, não aparecem nos portões. E o comércio? Só num dia assim percebem-se letreiros, placas, avisos nas portas fechadas. Espanto-me com as novidades: há lojas das quais eu nunca havia lido o nome. Sei que vendem perfumes, joias, calçados, badulaques, artigos para decoração, utilidades domésticas, moda e por aí afora, mas só agora, neste domingo que hiberna, observo certos detalhes.

A cidade cresceu, expandiu-se, mudou. Muitos terrenos vagos se preparam para abrigar edifícios que subirão aos céus. Algumas construções antigas vão sendo demolidas. Aos poucos a cidade tão minha conhecida vai tomando ares estranhos, recebe redes de lojas que vão se instalando. A área central virou só comércio, trazendo o tão propagado progresso. Onde habitavam antigas famílias, novas paisagens arquitetônicas se desenham. Já não acompanho mais o que acontece em tempo tão curto e real. Aos poucos, meu lugar vai dando lugar a outro que não conheço. E isso nunca foi tão claro quanto nesta tarde de domingo. Ah, tempo, meu querido, não seja assim tão radical...

Tema: Andando por aí (crônica)