ENTRE O JOGO E O ESTUDO: UMA CRÔNICA SOBRE AS ESCOLHAS DA JUVENTUDE ("Na juventude deve-se acumular o saber. Na velhice fazer uso dele." — Jean-Jacques Rousseau)

Eu sou professor há muitos anos, e já vi de tudo um pouco nas salas de aula. Mas, hoje eu quero contar uma história que me marcou profundamente, e que revela um pouco da complexidade da alma humana. Uma história que se passou em um dia aparentemente comum, mas que escondia surpresas e contradições.

Tudo começou quando a direção da escola resolveu organizar um "aulão" para os alunos do terceiro ano do Ensino Médio, que estavam prestes a enfrentar o Enem. Um evento que prometia ser um divisor de águas na vida desses jovens, que sonhavam com uma vaga na universidade. Um momento de revisão e esclarecimento das dúvidas mais frequentes sobre português e matemática, as disciplinas mais temidas pelos estudantes.

O auditório estava lotado de alunos ansiosos e curiosos, que se acomodavam nas cadeiras e aguardavam o início da palestra. Eu estava lá no outro pavilhão em minha sala de aulas normais para ministrar minha aula de sociologia que constava no horário normal. Eu sentia orgulho daqueles jovens, que demonstravam interesse e dedicação pelo seu futuro. Sobretudo, me acomodei na sala quase vazia, porque alguns aqui decidiram "matar" o tal aulão. Comecei minha aula esperando ser útil de alguma forma.

Mas, me ignoraram, estavam se divertindo com jogos de cartas. Pareceu-me que não estavam esperando professor algum para aquele horário. Não consultaram a planilha de aulas ou era de propósito mesmo. A verdade é que estavam empolgados e barulhentos, desafiando uns aos outros em partidas de truco. Eles não se importavam com o Enem, nem com as consequências de suas escolhas. Eles só queriam aproveitar o momento, sem pensar no amanhã.

Fiquei perplexo com essa cena! Como podiam existir dois grupos tão distintos entre os mesmos alunos? Como podiam coexistir o desejo pelo conhecimento e a indiferença pela educação? Como podiam conciliar o sonho da universidade e a fuga da realidade?

Eu não tinha uma resposta pronta para essas perguntas. Talvez fosse uma questão de personalidade, de valores, de influências. Talvez fosse uma questão de maturidade, de responsabilidade, de consciência. Talvez fosse uma questão de juventude, de rebeldia, de liberdade. Não sei qual é a verdadeira causa desse problema. Você saiba me explicar?

Então, lembrei-me de quando eu era jovem, e das escolhas que fiz na minha vida. Eu também tive meus momentos de dúvida, de diversão, de desafio. Todavia também tive meus momentos de estudo, de trabalho, de superação. Eu também tive meus momentos de erro, de arrependimento, de aprendizado. Talvez, por isso, sou professor hoje!

E foi assim que eu cheguei à conclusão desta crônica: a vida é feita de escolhas, e cada escolha tem uma consequência. Cabe a cada um decidir qual caminho seguir, e arcar com as suas consequências. Cabe a cada um encontrar o seu equilíbrio entre o presente e o futuro, entre o prazer e o dever, entre o jogo e o estudo.

E cabe a mim, como professor, respeitar essas escolhas, mas também orientar esses jovens para que façam as melhores escolhas possíveis. Pois é assim que formamos cidadãos conscientes, capazes de transformar o mundo com o seu conhecimento e a sua juventude. Fui tomar o baralho? Não, dei minha aula para dois ou três que sentavam na frente para não incomodar os fanfarrões do "fundão". São eles o reclamadores, os denunciadores e organizadores de abaixo-assinado para tirar o professor. Aceite meu medo ou minha conveniência.