SABOR DE SAUDADE

Cozinhar, de vez em quando, é uma das minhas habilidades. Quando incorporo a cozinheira, vou longe! Nada de requinte ou sofisticação, mas pratos que deixam a mim e a meu pai satisfeitos. Hoje foi dia de galinha caipira, essa delicinha que eu amo, acompanhada de um pirão super escaldado, que aprendi a fazer com a minha mãe.

Enquanto eu me servia, muitas recordações me vieram, do tempo em que galinha com pirão era um luxo em casa. Primeiro, porque na nossa condição de baixa-renda, comer carne era mais comum aos domingos; segundo, porque a gente vivia o luxo de ter reunida toda a família.

O almoço deste domingo teve esse sabor especial, o sabor da saudade, que me trouxe passagens da vida quando minha mãe ainda era presença física. Já se passaram 24 anos, mas essa falta que ainda me faz chorar permanece igual. Tem dias que dói mais. E eu sei que é pra sempre, passe o tempo que passar, especialmente porque faltou muita coisa pra gente viver.

Cada dia mais eu me rendo à ideia de que sou quase nada, sem qualquer poder de controle do que quer que seja, e que cada dia é um sopro de vida que precisa ser vivido de verdade, porque pode ser o último. O tempo, esse tempo que não é nosso, passa, e leva embora pessoas que amamos, muitas vezes sem a necessária despedida (que talvez eu nem suportasse).

Enfim a cena na minha cabeça: era domingo, hora do almoço, minha mãe fazia o prato de cada um de nós e nos chamava, pelo nome, um por um.

Hoje eu quis ouvir meu nome sendo chamado por ela pra receber meu prato e também um abraço.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 08/10/2023
Reeditado em 08/10/2023
Código do texto: T7904036
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