Cidade de vampiros.

Em pleno dia, um morcego sai de sua casa, no campanário de uma igreja, voa para o centro da cidade, rompendo as amarras invisíveis que o mantiveram prisioneiro das sombras noturnas. Suas asas negras recortam o céu como uma dança proibida, desafiando o sol radiante que tenta, em vão, obscurecer sua jornada.

Com olhos curiosos e inquietos, ele observa a agitação urbana que se desenrola abaixo. Carros apressados, pedestres absortos em seus mundos virtuais, prédios que se erguem como colossos de concreto, todos parecem indiferentes à sua presença incomum.

À medida que voa mais fundo na cidade, o morcego começa a perceber algo estranho. Uma sensação de vampirismo paira no ar, não em sentido literal, mas simbólico. Não demora muito e ele vê a competição desenfreada entre os humanos, cada um tentando "sugar" o sucesso e a felicidade dos outros. Eles se esforçam para acumular riquezas materiais, poder e prestígio, muitas vezes às custas dos sonhos e aspirações alheias.

O morcego, como observador silencioso, testemunha traições, mentiras e manipulações que os humanos perpetram uns contra os outros em busca de seus objetivos egoístas. Ele se sente ameaçado por essa escuridão que reside nos corações humanos. Os sorrisos falsos, as máscaras sociais e as artimanhas cruéis dos indivíduos o perturbam profundamente.

À medida que o dia se transforma em noite, o morcego, cansado e decepcionado, retorna ao seu campanário na igreja. Ele se sente triste com a condição humana que testemunhou, uma competição voraz que, de alguma forma, obscureceu a luz interior de cada pessoa.

No silêncio da noite, o morcego reflete sobre sua jornada e compreende que, apesar de suas asas negras e hábitos noturnos, ele não é o verdadeiro vampiro na história. Sabe que, embora os humanos possam ser cruéis e egoístas, eles também têm a capacidade de amar, ter empatia e compaixão.

E assim, o morcego, com uma triste compreensão da natureza humana, em um ato de nobreza, decide continuar sua jornada como um observador silencioso, esperando que um dia os seres humanos encontrem a luz em seus corações e deixem com ele a parte adversa da história .

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 09/10/2023
Reeditado em 10/10/2023
Código do texto: T7904395
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