O VERÃO DOS PROFESSORES ("Centenas de pessoas se reuniram neste domingo (15), em Arras, no norte de França, em memória de Dominique Bernard, um professor francês morto a facadas na sexta-feira por um ex-aluno da instituição, em um ataque islâmico")

Há algo de perturbador na atmosfera, como uma melodia dissonante ecoando pelas salas de aula. Os corredores das escolas, outrora repletos de risos e esperanças, agora ressoam com um lamento silencioso. Hoje, dia do professor (15/10), vou contar uma história de batalhas silenciosas, de lágrimas escondidas e de vidas que se desgastam em uma missão nobre e árdua: a dos professores.

Na França, mais um professor sucumbiu à brutalidade. Dominique Bernard, um educador dedicado, caiu vítima de um ex-aluno radicalizado, um triste reflexo da violência que assombra o sistema educacional francês. Essa triste realidade se assemelha a tantas outras na história recente, como o assassinato de Samuel Paty em 2020. O silêncio de um minuto e as homenagens demonstram nosso pesar, mas será que basta?

O cenário das escolas francesas não é único. Ecos semelhantes ressoam ao redor do mundo. Professores enfrentam uma batalha diária, onde as trincheiras são as salas de aula abarrotadas, as munições são os materiais escassos, e a vitória é medida em conhecimento compartilhado. Mas, essa luta é árdua demais. A ansiedade, fruto de estruturas precárias e salários defasados, consome esses heróis do cotidiano.

Com base no relato mentiroso de sua filha, o pai da menina apresentou uma denúncia contra o professor e lançou uma virulenta campanha nas redes sociais contra Samuel Paty, que depois foi decapitado por um terrorista de 18 anos. Os alunos descobriram que inventar motivo para denunciar professor dar certo, assim eliminam os indesejados com acusações de comer o lanche deles. De olhar para as alunas, contar piadas de cunho sexual, Não sabe dar aula, Não sabe nada... Eles podem ser racistas, homofóbicos, machistas, etarista, mandam todo mundo tomar no c... e riem muito da cara do professor. Se um professor morre vem outro no lugar imediatamente, e há muitos para serem trocados, como se muda de roupa. Salas de aula superlotadas e falta de recursos básicos drenam a energia e a paixão dos professores. Como não sentir ansiedade em um ambiente tão desafiador? Os salários, frequentemente injustos para a importância de sua missão, corroem a motivação e a sensação de dever cumprido.

O Brasil não é exceção. A saúde mental dos professores padece, com destaque para a síndrome de burnout, estresse e depressão. Essas feridas invisíveis afastam educadores do que amam, ameaçando minar nosso sistema educacional. Transtornos vocais, osteomusculares e a violência nas escolas são inimigos adicionais nessa guerra silenciosa.

Não basta homenagear com palmas e lágrimas os professores nos momentos de tragédia. Devemos lutar por salas de aula menos abarrotadas, por salários condizentes, por estruturas adequadas e por apoio na saúde mental. O grito silencioso dos professores não pode ser mais ignorado. Como disse Albert Camus: "No meio do inverno, aprendi que havia em mim um verão invencível." É hora de dar aos professores o verão que merecem. Ninguém merece apanhar, facadas e tiros.

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/03/08/professor-decapitado-na-franca-aluna-que-o-acusou-de-islamofobia-admite-que-mentiu.ghtml (acessado em 16/10/2023).