PROCESSO ROTINEIRO

 

Desde há muito tempo o povo humilde e desassistido deste imenso país tem sido a razão de ser da vida dos profissionais da oratória da política partidária e, na maioria das vezes, tem sido usado como um verdadeiro trampolim para aqueles que vivem das benesses promocionais proporcionadas por esse processo rotineiro.

Ele tem sido usado e abusado, diuturnamente, nas produções de falas verdadeiras e mentirosas dos chamados “homens do povo”, mas nem por isso esse mesmo povo deixa de acreditar nas falácias e nas poucas verdades propaladas por esses profissionais da política partidária como um todo.

Por mais que se queira esconder ou tapar o sol com uma peneira, os tais “homens do povo” vivem de plantar esperanças e sonhos na vida das pessoas que dependem direta ou indiretamente de suas ações e atitudes, sendo que eles estão sempre à procura de votos, em troca de um suposto apoio político e social em benefício de seus fiéis correligionários.

Certa vez, um desses homens do povo estava falando para uma plateia bem pequena, formada por pessoas que moravam na zona rural de um desses estados federativos bem carentes e ali, no calor de sua emoção momentânea, prometeu que se fosse eleito construiria muitos tuneis, várias pontes e alguns viadutos naquele vilarejo, quiçá, estivesse ele achando que discursava numa cidade de médio porte que supostamente visitaria naquele dia.

Preocupado e de alguma forma desconfiado com a gigantesca promessa feita por aquele “homem do povo”, um de seus prováveis eleitores pediu a palavra e assim se reportou:

- É muito estranho o senhor prometer a construção de tudo isso aqui no nosso vilarejo, sendo que nenhuma dessas benfeitorias vai trazer algum tipo de serventia para nós, até porque não há um rio, sequer um riacho nessa região onde vivemos.

Aquele “homem do povo” enrubesceu o rosto, esbugalhou os olhos e pigarreou um pouco, tentando esboçar uma resposta convincente para rebater aquele questionamento, mas como sempre o fizera em situações de dificuldades como aquela, disse de pronto:

- Veja bem, a ausência de um rio ou de um riacho na sua região não será problema, nem mesmo servirá de empecilhos para o cumprimento de minha promessa, pois desde já eu também prometo que assim que as minhas pontes estiverem construídas, mandarei buscar para cá alguns desses rios ociosos existentes nas regiões adjacentes para eles, enfim, passarem por baixo das pontes e viadutos que estiverem prontos…

E ali, sem muita delonga e sem qualquer tipo de parcimônia, encerrou seu discurso, despediu-se das pessoas presentes e rumou para visitar as pessoas de outro lugarejo vizinho.