Uma guerra pré-histórica

Há milhões de anos, em um ponto da África, vivia uma das primeiras gerações de hominídeos a pisar na Terra. Embora jovem, a comunidade já passava por uma crise e organizou às pressas uma assembleia para discutir a conveniência ou não de uma guerra.

Talvez a alguns pareça estranho que, naquele tempo, os humanos já fossem evoluídos o bastante para se reunirem em assembleia, mas nada há de se admirar nisso. Se hoje temos tantos humanos que se comportam de modo só ligeiramente superior aos primatas, é de se acreditar que o contrário também tenha acontecido.

Aqueles hominídeos, pois, reuniam-se para discutir sobre a guerra. É preciso reforçar que eles não eram tão selvagens a ponto de ter um exército constituído, um ministro da guerra, uma escola de guerra, uma indústria de armamento de guerra - desconheciam isso.

Tinham, porém, a memória das primeiras guerras da humanidade, que tanto mal haviam feito à geração de seus pais e avós. E como não queriam também eles passar por todo aquele sofrimento, acharam por bem deliberar se deviam ou não entrar em guerra.

Um orador lembrou que, em caso de conflito, fatalmente muita gente da tribo iria morrer, se não assassinada, ao menos de fome. Ele lembrou que, na última guerra, havia perdido vários parentes, inclusive uma irmã pequena, cuja lembrança comoveu alguns.

Outro orador, porém, muito bem vestido com um terno feito de pele de mamute, pediu a palavra: "Essa guerra não é como as guerras de nossos pais e avós. Trata-se de uma guerra diferente, pois é uma guerra justa em que sabemos estar do lado certo".

Houve cochichos de aprovação, enquanto ele continuava: "Quisera eu que não precisássemos da guerra. No entanto, será por meio dela que teremos a paz. Se não combatermos os nossos inimigos, ele avançarão sobre nós com seus costumes bárbaros, e todos nós pereceremos. Façamos desta a guerra para acabar com as guerras".

Naquele tempo, as assembleias costumavam resultar em decisões, de modo que os hominídeos decidiram entrar naquela guerra.

E é por isso que, desde então, nunca mais houve uma guerra no mundo e a humanidade se viu para sempre livre da barbárie.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 15/11/2023
Reeditado em 15/11/2023
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