CESTA DO BRASIL

CESTA DO BRASIL

Era apenas um jogo de basquete... mais um em busca do ouro no PAN. Refestelado no sofá eu procurava uma posição melhor no travesseiro que servia de encosto para a cabeça, mas na verdade o que estava incomodando era aquela imagem cheia de chuviscos. Maldita antena. Mexe daqui, mexe dali e nada. O problema era lá fora. O jogo nos minutos finais e o Brasil partindo célere em busca da final.

Moro em uma casa de esquina e meu cunhado é um artista pois em um terreno pequeno conseguiu fazer várias moradas.Até hoje não contei direito... nem conheço os vizinhos. Tem casa em cima e na parte de baixo. Casa de frente para uma avenida e casa de frente para a outra. É gente da família e inquilinos...

Pra chegar até o telhado descobri que tinha que ir pela casa do vizinho e posteriormente soube que as chaves estavam na mercearia da esquina; lá no seu "Toin". Que mão de obra. Cheguei no local e descobri que a fiação da antena estava desconectada e que a mesma não estava no telhado como imaginava a princípio. Estava escorada na porta do banheiro da casa de cima...Em tempo: a casa está desabitada, é de aluguel. Um buraco no teto para acesso ao telhado e a antena ficou escorada por lá de qualquer jeito. Desci rápido pois o jogo estava nos minutos finais e basquete vocês sabem... o placar muda de um instante ao outro num piscar de olhos. Quando me joguei no sofá... que decepção... tinhas umas linhas descendo na imagem... e o colorido já não era o mesmo... a camisa da seleção tinha mudado de cor, pelo menos na minha tv. Conferi o placar e o tempo de jogo e voltei rápido para o telhado... fui na mercearia de novo... pedi as chaves novamente com um sorriso amarelo e me dirigi ao telhado... dessa vez vai! Amarrei a antena no lugar mais alto... pense numa dificuldade... o espaço para minha movimentação era mínimo e um problema de coluna ainda me tirava a paciência... até que consegui firmá-la. Desci outra vez... e da porta mesmo olhei a tv... pqp... Chamei a colaboradora lá de casa e disse:

- Olhe vou voltar par o telhado e mexer na antena e você me orienta... ela assentiu com um movimento de cabeça.

Voltei a mercearia e o bodegueiro... apenas gruniu algo que não ouvi direito e com os olhos já indicou o lugar da chave mais uma vez! Putz... que m....

Já estava fumaçando quando subi no telhado... e dizendo a mim mesmo.. é a última vez... nisso ouvia o locutor vibrando com as cestas do Brasil na tv da casa do vizinho; fiquei mais "aperreado"; o jogo estava acabando. Mudei a localização daquele objeto imprestável e gritei a plenos pulmões:

- E agora... melhorou a imagem?

- Tá mais ou menos.... Respondeu a nossa secretária.

- Tá passando listras ainda...?

- Não...!

Como a distância era grande eu ouvia apenas algo que julgava ser a resposta que eu queria ouvir.

Desci rápido e ouvi na casa do vizinho...:

- CEEEESTA.... do Brasil!

Apertei o passo... já levei a chave comigo prá não ter que pedir de novo na bodega.

Quando cheguei na porta de casa... não acreditei... deu vontade de chorar... estava pior do nunca... só tinha um chiado na tv... imagem nem pensar...

E na casa do vizinho...:

- CEEEEESTA DO BRASIL!

Apelei... arranjei outro celular e entreguei a secretária:

- Seguinte... vamos nos comunicar pelo telefone, assim fica mais fácil.

Prá fazer um teste.. luguei para o celular que estava na mão dela... estávamos a menos de 4 metros de distância. O fone tocou e ela atendeu:

- Alô..

E eu:

- Alô..

E ela:

- Quem está falando????

Olhei prá ela... ela prá mim.

- O Sr. está passando mal?