Mentes brilhantes

Vagando - e divagando - pelas ruas e avenidas da grande cidade, imenso centro, encontrando - e perdendo - o sentido e noção do que se é viver e sobreviver na metrópole já desgastada pelo uso - mal uso - de sua natureza, de suas vistas, selvas de pedras e arranha-céus, tais como a conhecida torre, a de Babel.

Entre as buzinas dos automóveis, o quase ensurdecedor barulho das motocicletas, o ar que vê a cor, a cor cinza e o cheiro dos combustíveis que queimam que se unem ao do rio que corta a cidade de uma ponta a outra e muda de nome.

Quanta beleza!!!

Sim, se vista e apreciada de dentro dos veículos com ar condicionado, ou até mesmo através de fotografias turísiticas ou que ilustram as revistas.

A paisagem é belíssima, quando na madrugada os carros revezam com o sono dos motoristas, e aquele trânsito rotineiro parece apenas se tratar de um sonho - ou pesadelo - , até os faróis pedem descanso, cessando suas cores verde e vermelhas e piscando apenas as amarelas...

Nas ruas e avenidas, nas pontes e viadutos, os buracos que não se ausentam, as faixas apagadas pelo tempo, mas a beleza da cidade é vista pela limpeza... Sim, pela limpeza visual, não vemos mais outdoors pela cidade e as placas de divulgação dos comércios devem ter um padrão, tudo para se combater a poluição visual, enquanto isso nas marginais as flores e árvores encantam, neste instante de apreciação devemos apenas prender a respiração para que não inspiremos o odor, não de flores, mas de uma cidade preocupada com a poluição o cheiro não pode ser tão ruím... Ou será que sim?

Para as pessoas que assistiram ao filme "O cheiro do ralo" seria fácil entender se alguém conhecer esta cidade e vir a comentá-la, fazer esta comparação.

O cheiro agradável ou não vem dos que nela moram ou passam por ela, ainda que indiretamente quando os cidadãos se calam ao ver os absurdos a que são submetidos e nada ser feito para mudar.

O rodízio que no passado seria de carne ou pizza, virou de carro, na falta de algo ainda pior cogita-se num rodízio ainda mais grandioso, o do ano par e ímpar...

As montadoras de carros agradecem, as famílias mais favorecidas - que possuem mais de dois carros por pessoa - sentirão aquele desejo consumista se realizando, e aos trabalhadores nada mais restará além de transportes coletivos - ônibus, metrôs, lotações - já para as grandes mentes que tiveram o privilégio desta magnífica idéia, ao invés de investirem em viadutos paralelos às avenidas mais movimentadas da cidade, irão arrecadar mais IPVA, multas - peraí, o dinheiro arrecadado em multas não seria para melhorias? - instalações de "faróis inteligentes" - aqueles que abre um e o próximo à 50 mts. permanece fechado - mentes brilhantes, realmente brilhantes.

E, para finalizar, tempos em que se fala sobre faltar ou não energia elétrica, a cidade se ilumina comemorando o Natal :

O Natal das crianças de rua que a cada farol aborda : " - Tio, me dá uma moeda?";

O Natal das pessoas que matam, roubam, estupram e ainda que encarceradas recebem o direito de liberdade nesta data, para quê senão para cometerem mais crimes?;

O Natal das famílias felizes que presenteiam, que matam e excluem, e pensam que só por ser Natal conseguirão dormir sem remorsos;

O Natal dos famintos;

O Natal dos abandonados.

E assim, o Natal, além de apresentar os recordes em vendas nos shoppings não apenas nesta grande cidade, mas em tantas outras, se finda após as doze badaladas do dia 25 de dezembro e, aquele Menino que nasceu na manjedoura, sendo presenteado pelos Reis Magos, que veio a este mundo para nos salvar, será que foi lembrando em sua magnitude nas ruas e nos lares?

Será que as pessoas que o clamaram são Cristãos de corpo e alma, ou passam as vésperas e o dia de comemoração tendo pensamentos consumistas, fúteis, falando do próximo, pensando onde estarão no Reveillon ou no Natal que vem?

Transeuntes, motoristas, entre tantas outras mentes brilhantes.

Mentes brilhantes numa grande cidade.