Minha primeira vez no cinema

Era o ano de 1986, eu tinha meus nove anos de idade, apaixonado por filmes e futebol. De família bem humilde e um tanto religiosa, aos domingos meus pais me levavam à missa das seis. O que mais gostava era quando o padre dava a bênção final, porque logo em seguida, íamos a um bar que ficava ao lado da igreja comer um delicioso salgadinho e beber café com leite.

Fascinado por meu time do coração, quase todos os domingos estava lá, no estádio, para assistir a uma bela partida do tricolor caxambuense. Assim vivia eu, dividido entre dois amores, bola e tv, sem contar que tinha um grande desejo de assistir a um filme no cinema, o que ainda não havia acontecido.

Até que certo dia, passando em frente ao cine Caxambu, me deparei com um cartaz que assim dizia:

— Estreia neste sábado o filme “Os trapalhões e o rei do futebol”.

Fiquei entusiasmado, pois nunca tinha entrado em um cinema, era fã dos trapalhões e um dos participantes do filme era o astro do esporte mais popular do mundo, rei Pelé. Meus olhos brilharam diante daquele anúncio e coloquei na cabeça que iria ver o melhor jogador do mundo em uma tela maior — há! e colorida.

Porém, havia um agravante, meus pais não tinham dinheiro para que eu pudesse comprar o ingresso. Mas isso não matou o meu sonho; pensei — vou lavar carros lá na praça da cidade, pois assim, levanto uns trocados e também a minha esperança de entrar no cinema pela primeira vez.

Após um dia de duro trabalho veio a recompensa, o dinheiro estava no bolso e a sessão da noite garantida. Às 18h lá vou eu, com um sorriso de orelha a orelha e o coração disparado como um guepardo na savana. Parecia coisa boba, mas não para um menino pobre que sonhava ver Pelé bem de pertinho, mesmo que fosse na telona do cine de caxambu.

Descia o morro do Santa Tereza me perguntando:

— Como deve ser a sala, a tela e o assento do cinema?

E eu mesmo me respondia: — seja lá como for, o que importa é que hoje vou dar muitas gargalhadas e não farei isso sozinho.

Logo que cheguei, me acomodei na poltrona e alguns minutos depois a tela brilhou e com ela os meus olhos. O filme começou e como disse, foram tantas risadas que jamais me esquecerei da minha primeira vez em um cinema.

Erick Leite
Enviado por Erick Leite em 25/11/2023
Reeditado em 25/11/2023
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