O PRECIOSO DA VIDA

Enquanto ouço Nora Jones, olho através da janela a chuva tão esperada.

Ouça Nora, Nana ou Nina Simone, ouço-as para acalmar a alma enquanto emito documentos no home Office.

Sento na cadeira do escritório improvisado, entre tapetes enrolados, bicicleta ergométrica e colchão para ginástica. Era para organizar o escritório este ano. Nada. Continuo entro os tapetes e objetos que não sabemos se iremos usar.

Sabe, ouço Nora para devanear no tempo. Há tempos não escrevo. Perdi o fio, e a meada está trancada no baú antigo do qual não tenho as chaves.

É final de ano, e aparentemente toda a mudança aconteceu aqui dentro. Não fora. Fora que só houve problemas a serem resolvidos , dilemas, e outras coisas que a porta da vida deixa passar para nos testar.

Este ano aprendi a dominar a arte de me curvar, sem achar que estão me quebrando. Aprendi o caminho de me doar, mas também fiquei “p” da vida quando senti a manipulação me rondando.

Aliás, a manipulação sempre me enfurece. Enfureci tanto, que fiquei doente. Mas depois fui curvando linearmente no entendimento que tudo tem dois lados, e eu poderia tirar proveito de algum. A vida é assim, e como dizia acho que Nietzsche, “Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo.” E valorizar este precioso, é que é preciosidade mesmo.

Li alguns livros, bons e outros nem tanto. Cuidei da saúde e me permiti alguns cuidados estéticos. Mas ainda sobre valorizar, ando valorizando o tempo gasto no devanear da tarde, na leitura pós-almoço, no papo com minha cachorrinha, na cadeira de curto espaço para balançar. Mas ela está ali, balança timidamente comigo e Dara, mas alucinadamente em minha alma, enquanto olho os cactos na murada, as suculentas resilientes e vislumbro um enternecimento de reencontro. Reencontro com a paz.

Uma casa de paz é seu reencontro com si mesmo. O precioso que almejamos por anos, é apenas este lugar que é “seu”, que te acarinha, que te permite ser quem você é.

A crônica está meio sem sentido, mas a vida está fazendo muito mais.