O escuro claro do meu quarto

Já é tarde, com o corpo relaxado sinto-me estirada na cama macia e suave. O sono escondeu-se pelas dobras da coberta e parece inútil procurar-lhe.

Não se faz um escuro completo, e com insistência o mundo lá fora continua a mesclar-se com o meu atravez das fretas de minha janela, tenho na parede oposta um esboço do que neste instante parece externo. O claro invade sem permissão o vazio do meu quarto, transformando o meu breu em um simples escuro claro.

Contudo não é só a janela que me trai, o silêncio também foi quebrado pelo som dos giros da hélice do ventilador, e observando com mais zelo, tenho contato com uma melodia agradável e ritmada.

Ainda guardo esperança; quem sabe troque a janela? Mude o ventilador?

Assim poderia concretizar uma real isolação, permanecendo solitariamente em companhia apenas de meu próprio mundo. E seria o melhor por um momento, um instante de pura liberdade de expressão e pensamento. Inquietude tenho, e de que adianta? Perde graça ao perceber que me serve a atual limitação. Pobre liberdade presa e escondida entre as paredes de meu aposento. Seria liberdade?

Percebo que a rotina está nos eixos desejados e a conformidade é a melhor escolha, e agora a cada momento transformarei com a livre imaginação meus velhos “elementos” em novos, procurando novas sensações com aquilo que já me é exato. Ao menos tenho meu mundo e o mundo vasto acoplados por alguns minutos, no eterno escuro claro do meu quarto... até que meu sono volte!