FLORES DE APEL CREPOM

Neste dia dois de novembro de 2023 que já passou, há bastante tempo, no silencio de mim mesmo fiquei revirando velhas coisas que o tempo não apagou.

E me encontrei, guri, na frente do Cemitério, em Rosário do Sul sob o sol forte e sofrendo com o vento norte que neste dia soprava, com um balaio de vime cheio de flores de papel que minha mãe fazia para vender aos familiares dos mortos que ali estavam enterrados.

Para que no dia tivesse um bom estoque era preciso começar o trabalho, ainda no mês de outubro mais ou menos pelo dia 20. Minha mãe ia ao armazém e comprava centenas de folhas de papel Crepom das mais variadas cores e utilizando-se somente de uma tesoura ia cortando as folhas em forma de pétalas de tamanhos pequeno, médio e grande e com uma habilidade ímpar, ia construindo com suas mãos as mais variadas flores.

Rosas, copos-de-leite, lírios, bem-me-quer, violetas e dálias.

Depois, as ia agrupando em uma haste de arame, as rosas uma a uma e a outras de duas em duas ou até mais, de forma que viraram lindos buquês semelhantes a flores naturais.

Quando as flores estavam prontas a minha mãe preparava diversas panelas que, em cima do fogão a lenha recebiam uma quantidade de breu sólido que depois de aquecido era misturado às essências que iriam dar perfume correspondente às flores.

Assim o fogo de lenha mantinha em estado líquido o breu com essências de rosas, de copos-de-leite, de lírios e de bem-me-quer. Algumas vezes a minha mãe mergulhava uma rosa na panela errada e tínhamos uma rosa com perfume de lírio ou de dálias.

Era uma exótica rosa que era vendida assim mesmo, porque não podia se perder a flor. O breu logo secava e dava a flor uma forma brilhante, petrificada e estranhamente perfumada e que se fosse tratada com o devido cuidado chegava a durar seis meses.

No dia dois de novembro lá estava eu com o meu balaio cheio de flores e em roda de mim dezenas de pessoas que escolhiam as flores segundo, diziam elas, à preferência de seus entes queridos. Havia vez, quando o tempo estava bom, eu voltava para casa às dez horas com encomendas especiais para serem entregues aos clientes pela parte da tarde.

As preferidas eram as rosas vermelhas que rendiam para minha mãe um bom dinheiro.

Na primeira hora da tarde lá estava eu com o meu balaio cheio, de novo...

Lembro-me da beleza daquelas flores e do carinho e arte com os quais a minha mãe as fazia.

Lembro-me da admiração das pessoas que, ao vê-las mesmo que estivessem portando flores naturais eram levadas, por estranhos motivos, a comprá-las para oferecê-las aos seus mortos.

Eram, realmente, belas flores que duravam mais que as flores dos jardins.

Na minha alma e no meu coração elas estão presentes até hoje e o seu estoque não se extinguirá.

E, de vez em quando, apanho uma do meu velho balaio de vime e oferto, com saudade para os meus parentes e amigos que partiram, dobrando a esquina da vida e entrando no caminho do Eterno e Desconhecido Mistério...

Neste dia dois de novembro de 2023 que já passou, há bastante tempo, no silencio de mim mesmo fiquei revirando velhas coisas que o tempo não apagou.

E me encontrei, guri, na frente do Cemitério, em Rosário do Sul sob o sol forte e sofrendo com o vento norte que neste dia soprava, com um balaio de vime cheio de flores de papel que minha mãe fazia para vender aos familiares dos mortos que ali estavam enterrados.

Para que no dia tivesse um bom estoque era preciso começar o trabalho, ainda no mês de outubro mais ou menos pelo dia 20. Minha mãe ia ao armazém e comprava centenas de folhas de papel Crepom das mais variadas cores e utilizando-se somente de uma tesoura ia cortando as folhas em forma de pétalas de tamanhos pequeno, médio e grande e com uma habilidade ímpar, ia construindo com suas mãos as mais variadas flores.

Rosas, copos-de-leite, lírios, bem-me-quer, violetas e dálias.

Depois, as ia agrupando em uma haste de arame, as rosas uma a uma e a outras de duas em duas ou até mais, de forma que viraram lindos buquês semelhantes a flores naturais.

Quando as flores estavam prontas a minha mãe preparava diversas panelas que, em cima do fogão a lenha recebiam uma quantidade de breu sólido que depois de aquecido era misturado às essências que iriam dar perfume correspondente às flores.

Assim o fogo de lenha mantinha em estado líquido o breu com essências de rosas, de copos-de-leite, de lírios e de bem-me-quer. Algumas vezes a minha mãe mergulhava uma rosa na panela errada e tínhamos uma rosa com perfume de lírio ou de dálias.

Era uma exótica rosa que era vendida assim mesmo, porque não podia se perder a flor. O breu logo secava e dava a flor uma forma brilhante, petrificada e estranhamente perfumada e que se fosse tratada com o devido cuidado chegava a durar seis meses.

No dia dois de novembro lá estava eu com o meu balaio cheio de flores e em roda de mim dezenas de pessoas que escolhiam as flores segundo, diziam elas, à preferência de seus entes queridos. Havia vez, quando o tempo estava bom, eu voltava para casa às dez horas com encomendas especiais para serem entregues aos clientes pela parte da tarde.

As preferidas eram as rosas vermelhas que rendiam para minha mãe um bom dinheiro.

Na primeira hora da tarde lá estava eu com o meu balaio cheio, de novo...

Lembro-me da beleza daquelas flores e do carinho e arte com os quais a minha mãe as fazia.

Lembro-me da admiração das pessoas que, ao vê-las mesmo que estivessem portando flores naturais eram levadas, por estranhos motivos, a comprá-las para oferecê-las aos seus mortos.

Eram, realmente, belas flores que duravam mais que as flores dos jardins.

Na minha alma e no meu coração elas estão presentes até hoje e o seu estoque não se extinguirá.

E, de vez em quando, apanho uma do meu velho balaio de vime e oferto, com saudade para os meus parentes e amigos que partiram, dobrando a esquina da vida e entrando no caminho do Eterno e Desconhecido Mistério...

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 18/01/2024
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