TALVEZ NO PRÓXIMO ANO SEJA DIFERENTE

Esta crônica foi publicada no jornal “O Comércio do Jahu” no dia 27 de dezembro último. Mesmo com a chegada do ano novo ela continua bem atual.

Durante todo um ano o Natal foi esperado, mesmo por aqueles que não mais acreditam nele. Primeiro, foi apenas uma tênue esperança. Depois, já nos últimos dias, tornou-se uma ansiedade quase incontida, principalmente no aspecto comercial que enchia as ruas de cores e apelos charmosos para as compras, fazendo com que muitos esquecessem o real significado da data. Mas, enfim, ele chegou de mansinho, renovando as esperanças, reacendendo a chama da humanidade, trazendo de volta o sorriso em muitos lábios, decretando uma pequena trégua na luta diária. As árvores foram acesas, os poucos presépios iluminados e algumas consciências fizeram uma pausa. Era Natal, um dia de meditação. Apenas alguns entenderam isso.

Orações? Nunca se rezou tanto neste mundo, como nos dias atuais, inclusive pela televisão! Mas poucos realmente colocaram a alma em suas preces. Muitos as usaram para aliviar as consciências culpadas. Talvez, quem sabe, o Criador se descuide no dia do juízo final e os acolha no reino eterno, para desfrutarem de tudo aquilo que hoje possuem. Afinal, não custa sonhar. E o Natal se foi, levando sua mensagem quase esquecida: “paz na terra aos homens de boa vontade”. Não era assim que se rezava antigamente? Hoje? Bem, hoje é diferente. Afinal, tudo mudou. Por que não podemos mudar as preces também? Nada como a modernidade!

Na calada da noite santa os homens pensaram. Pensaram apenas e tudo se diluiu nos vapores do álcool e a boa vontade esvaiu-se no fundo dos copos vazios, nas gargalhadas, não raras vezes fingidas, na música eminentemente comercial que ecoou pelas ruas. Ah, sim, os sinos de algumas igrejas até tocaram, chamando à prece aqueles que ainda sabem crer. E quando o sol surgiu no dia seguinte, a maioria tinha certeza que as coisas continuariam iguais, no egoísmo do cada um pra si e Deus para todos. Os crimes continuarão impunes, vidas ceifadas, os pobres prosseguirão sua caminhada em busca do pão nosso. Afinal, não foi sempre assim? A justiça será apenas um desejo.

Agora 2007 caminha para o seu final. Já se brinda, antecipadamente, a chegada de mais um ano. Ouvem-se os acordes conhecidos da marchinha “adeus ano velho, feliz ano novo/ que tudo se realize no ano que vai nascer/ com muito dinheiro no bolso/ saúde pra dar e vender...” É, o dinheiro vem sempre em primeiro lugar. A saúde ocupa a segunda posição. Talvez, por isso, os doentes cumpram uma sofrida cruzada em busca de atendimento por este país afora. É uma pena. Seria tão bom se tudo fosse diferente.

Mas, sempre existe a esperança, essa chama imortal, profunda de que, talvez, as coisas possam um dia melhorar. Afinal, diz o ditado, ela é a última a desaparecer! Esperança que os homens públicos olhem para o povo sofrido e enxerguem gente, não apenas os votos que lhes garantirão poder e regalias. Esperança que a violência deixe de fazer parte do nosso cotidiano e que o Criador olhe pelo povo, inspirando sentimentos cordiais e fraternos. Esperança, enfim, de que “talvez no próximo ano seja diferente...”