A PRÓXIMA CURVA DO RIO

Heráclito de Éfeso, um dos filósofos pré-socráticos da Grécia, em notável momento de lucidez, comparou nossa vida a um rio que, independentemente dos obstáculos, continua a sua jornada sem a possibilidade de passar outra vez pelos mesmos lugares.

Os reencarnacionistas pensam diferente. Eles acham que teremos tantas oportunidades quantas quisermos até aproveitar delas as melhores partes para a evolução espiritual, para atingir a iluminação que é o objetivo das religiões hinduístas.

Outros acreditam que a nossa vida é uma só e que tudo o que queremos ou devemos fazer não pode ficar para depois, porque as oportunidades não se repetirão.

Como as duas ideias ainda estão no campo das hipóteses, depende de cada um escolher a versão que melhor se adapta ao seu modo de pensar.

Mas o fato real é que, tal como navegar num rio desconhecido, a nossa existência é uma série de surpresas.

Pode se apresentar como aquele rio remansoso, repleto de curvas em planícies pantanosas aonde deixaremos coisas ruins que nos acontecem, as nossas preocupações ou aquelas pessoas chatas que povoam a nossa existência, mas também pode ser aquele rio pleno de surpresas, encachoeirado, espremido em gargantas estreitas, com paredes íngremes, águas turbulentas, com troncos ou afloramentos de rochas retardando a nossa passagem.

Não sabemos se estarão à nossa espera pedras afiadas ou desgastadas pelas gotas d’água que na nossa existência são os segundos que se vão sem que possamos detê-los.

Heráclito também salienta que, assim como o rio, hoje estamos diferentes do que éramos ontem e seremos também diferentes amanhã sem previsão de como serão as nossas reações diante dos fatos, porque no espetáculo da vida humana não existem ensaios pois, quase tudo é inusitado...