O verdadeiro povo brasileiro

Ser um autêntico brasileiro trabalhador não é fácil, pelo contrário, é tudo muito mais complicado, parece mesmo que só tem maré contra, para ajudar não tem ninguém, mas, para atrapalhar aparecem um monte. Um monte de coisas para fazer, contas a pagar, filas a enfrentar, chefe a reclamar, e, isso tudo, enfrentando fome, frio, calor, dor, tempestades e outras coisas mais.

Brasileiro sofre, já levanta cedo, às vezes, nem toma um café preto, sai logo, nem tem tempo de voltar pra conferir se trancou mesmo a porta, se tranca mesmo, é de medo quando atravessa o beco da fumaça, mas avança, chega no ponto de ônibus já lotado de outros trabalhadores, onde já tem uma imensa fila para um coletivo que já chega entupido de passageiros. Ainda está escuro, e a impressão que dá, é, que, parece que aquela gente toda, dormiu ali, no relento, pegando sereno, com medo de perder o precário transporte público.

Quando a lata de sardinha abarrotada de corpos suados chega à rodoviária de Brasília o sol ainda está nascendo, e pelo vidro da janela do coletivo percebe-se uma leva ainda maior, um mar de pessoas, gente frenética circulando rapidamente para lá e para cá, quase correndo, uns até correm, atrás do sustento e também dos seu sonhos, se é que dá tempo de sonhar, dormindo tão pouco, acordando tão cedo.

Se tem um lugar aqui no DF que mais se assemelha a um formigueiro, é a rodoviária do Plano Piloto, ali, é possível perceber, só observando, no pulsante vai e vem daqueles humildes guerreiros, suas lutas, seus sonhos, sofrimentos, angústias, tristezas, desisilusões e até conquistas, porque não? dá pra ver, também, além do suor sendo derramado, marcas e feridas abertas pelo tempo, queimaduras provocadas pelo sol, a velhice chegando antes da hora, corpos cansados, mas firmes, há ali, um fiel retrato do verdadeiro povo brasileiro, que "rala" de verdade, para sustentar, não somente a sua, mas, também, a família dos outros, a dos que não acordam cedo, dos que não estudam e nem trabalham, dos que nem suam, dos que nem sofrem e também a família dos que nem choram mas fazem chorar, essa, é a sina de um povo, o verdadeiro povo brasileiro, que Deus os proteja.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 28/02/2024
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