Frap Frap

Dona Lurde é aquela autêntica varredora da rua, o asfalto em frente à sua casa já está bastante desgastado de tanto "frap frap" da vassoura.

Ela dá conta da vida de todos nas redondezas, dizem que sabe até a data de nascimento de cada um, quanto recebem de salário, quem vai se separar e por aí vai, sua curiosidade é algo fora do normal, ultrapassa barreiras e até altos muros.

É só ela perceber qualquer conversa, discursão, boatos sobre a vida alheia ou alguma movimentação na vizinhança, arregalha os olhos, já vai correndo pegar a vassoura e iniciar o seu terrível e interminável"frap frap, o problema, é, que, o excesso de varreção da rua atrapalha o futebol dos moleques, sempre sobra uma vassourada na bola, cabo de vassoura nas canelas, na cabeça. O futebol acaba, mas, o " frap frap" não para.

Num belo dia, eis que a tramada vingança ocorreu, os moleques ao perceberem um descuido de dona Lurde, entraram em seu quintal, foram lá no cantinho onde a mulher deixava estrategicamente sua inseparável vassoura, pegaram-na, a amarraram no poste de energia elétrica da rua e foram se esconder, não passou muito tempo e, ao primeiro ruído, a velha saiu pela porta na direção da vassoura, ao não ver a amiga fiel no lugar de sempre, se desesperou, começou a suar e ficar com os olhos arregalados, olhou para um lado e para outro e logo percebeu um cabo de vassoura pendurado ao poste, ficou engraçado ver aquela senhora baixinha e gordinha pulando em vão ao tentar alcançar o objeto e, mais engraçado ainda, foi quando ela tentou subir agarrada ao poste, a cada vez que o ruído da vizinhança aumentava, Dona Lurde acelerava o inútil processo de escalada, era como se ali estivesse lambuzado com sebo, ela mal saia do lugar com aquele movimento frenético de tentar subir, a essa altura, os moleques sairam da toca, já não se aguentavam de tanto rir, enquanto uns rolavam no chão, outros gargalhavam e, ao mesmo tempo, ensaiavam um coro cantando: "frap frap".