Sociedade Industrial

Meus dias começam cedo. Terminam tarde. São rápidos. Acelerados. Mal posso esperar pela folga dos finais de semana. Meus dias não são ruins, contudo estressantes. Não tenho tempo para abrir as janelas ou escutar o cantarolar dos pássaros. Meus dias não passam de ansiedade, uma que faz formigar todo o corpo. Meus dias são, feito uma xícara de café, amargos.

Como defini-los, se não por uma perpetuosa solidão? Mas, como solidão, se estou em meio a tantos outrem feito eu?

Toda a população em frenesi, sem mal respirar, sem profundidade, sem nada. Em ritmo descompassado, gritando e vibrando: Produzir, produzir, produzir!

Tantos de nós, mastigados pelas máquinas, dilacerados pela irritação, sem êxtase, ócio ou qualquer chance de pausa. Tantos de nós acompanhando a manada, respirando em meio à fumaça e implorando por aposentadoria.

Meus dias agora não passam de industrialização. De foco. De trabalho. De cobrança. De cansaço. De realidade. De utilidade. Meus dias, nossos dias, foram transformados em meios de produção.

Porém, a sociedade industrial é assim, mesmo. Fica quem pode, segue quem quer. Não é como se fosse uma escolha, porém vestida em "liberdade", tudo fica mais engolível. Aguentamos assim, unidos por um laço de fita imaginário, a movimentação das máquinas. Aguentamos assim o som dos carros e toda a inaturalidade que se tornou natural. Adaptamo-nos ao caos que foi criado com a desculpa de modernidade.

Assim, meus dias seguem aguardando por mudança, uma fuga in natura. Talvez o próximo fim de semana, quem sabe?