Lembranças de um fim de tarde no parque

Intensidade nunca foi um problema - você me disse.

Você nunca me falou que a sua chama poderia me queimar - eu retruquei.

Era fim de tarde no parque quando, ao badalar dos sinos da igreja - que os olhos, dali, não alcançam -, eu te perguntei sobre o futuro.

- Você nunca quis saber do passado. Por que agora pergunta do futuro?

- O passado eu não mudo, meu bem. O futuro é uma folha em branco e nós temos tinta suficiente pra fazer pintar o que quisermos.

- E quem foi que te disse que a gente muda o futuro, hein?

- Eu não sei. Talvez ninguém…

E, de fato, eu não sabia. No final, eu mesmo é que precisava acreditar que alguém - ou algo - havia me garantido, sem titubear, que o futuro era uma escolha.

Aquela conversa, eu bem me lembro, teve um gosto amargo em minha boca. Todo aquele sentimento - que saía da pele como quem ascende aos céus - me era enfiado goleia abaixo.

Eu respirei fundo. Formei meus punhos cerrados como quem vai à luta. Enchi o peito de orgulho e ameacei gritar aos quatro ventos teu nome. Para te mostrar que o amor define o futuro.

Mas quando me veio a oportunidade do berro, eu me pus pra fora da oportunidade do berro. Eu não gritei. E novamente, eu engolia a seco aquele amor.

- Que culpa eu tenho se o passado te pune? Você sente demais. Você vive demais. Você queima demais. Pra você, todo sopro é ventania.

E foi assim que eu te vi pela última vez,

naquele final de tarde no parque.