Sangue de barata
Todas as relações, umas mais, outras menos, requerem alguma cota de sangue de barata. Não por menos as baratas são conhecidas por sua capacidade de sobrevivência a ambientes insalubres. Sim, como todo mundo sabe, elas estão na reduzidíssima lista dos que sobreviveriam a um apocalipse nuclear. São consideradas feias, nojentas, mas não há como desqualificar sua capacidade de resistência diante de situações desfavoráveis. O problema é que, com o tempo, de tanto correr sangue de barata em nossas veias acabamos nos sentindo uma, nos achando feios, nojentos, apesar de resistentes. Então as pessoas vão nos tratando como baratas, sempre prontas a nos golpear com uma chinelada ou nos esmagar sob seus pés.
Não raro, lidar com determinadas pessoas é atividade extremamente intoxicante, não obstante ser inevitável. E aí vamos nos acostumando a nadar nesse fluxo relacional de excrementos, nadando e nos sentindo um monte de nada. E nem venha esbravejar, querendo bancar o fodão, dizendo que isso não acontece com você. É, amigo! Toda convivência impõe em algum momento deixar correr pelas veias um pouco desse ser repugnante. E assim vamos nos relacionando, infundindo em nós mesmos esse sangue de barata para sobrevivermos às latrinas interpessoais onde nos enfiamos.