A vida está na água, rapaz.

Hoje o dia foi bom, saí com meus amigos, mas ainda assim meu rosto esquenta enquanto escrevo, um calor de líquido sal. Me dei conta chegando em casa, que na minha vida inteira, que ainda é pouca, tenho estado sozinho.

Um sozinho de motivos mil e muitas faces.

Ouvi Luedji de novo e juro, juro que te vi. Esse álbum é um soco. Me dei conta também que de alguma maneira vou estar mais sozinho agora, depois que mainha se for, se é que dá pra estar mais ou menos sozinho...

Não é tudo uma coisa só?

Mas isso é outra história.

Mabel matou a esperança. Mabel, minha gatinha, matou uma. Aquele insetinho verde que chamam de esperança. O bicho estava numa zanzação pela casa a semana inteira, um pontinho verde e parado como uma ilha, uma folha com perninhas e natureza. Até que ante-ontem abri a porta do meu quarto, e achei a coisinha verde encolhida- cadáver, no chão.

A esperança pelo visto, é a primeira que morre.

Queria poder dizer que te amo de novo, várias e muitas vezes, até a garganta falhar. Queria ser o Tom Zé naquele vídeo, enquanto ele atira vários adjetivos malucos e a câmera entrecorta os dois.

Mas a mudez é uma cura também, embora se confunda com silêncio, embora adoeça.

Também foi dia da poesia. Lembrei de Chico Bosco, falou que a poesia era Autotélica.

Autotélica é só um nome chique pra dizer que não serve pra nada além de si mesma, que é inútil, e por isso mesmo é das coisas mais vitais.

Quando fico muito confuso assim, a escrita vai se atomizando, sendo algumas ilhas. Tudo se dispersa, e sem uma cola, desaparece. Preciso ser água de novo, preciso de um sinal.

"Vá mas deixa aqui comigo um amuleto

Uma esperança de que os sonhos valem

E minha palavra nunca foi em vão"